São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994 |
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Anatomia de um palhaço
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA – A Folha obteve documento reservado mostrando como o brasileiro, ao pagar seus impostos, é feito de idiota. Técnicos dos ministérios da Fazenda, Planejamento e Saúde investigaram como é gasto o dinheiro da saúde. Conclusão: apesar de todos os esforços, prossegue o festival de fraudes, corrupção, clientelismo e desperdício.Não se está, aqui, falando de pouco dinheiro: R$ 500 milhões por mês. O relatório é devastador e, particularmente, irritante. Devastador por relevar o tamanho do descaso. Irritante porque a saúde no Brasil está em estado de infecção generalizada e cada centavo desperdiçado significa uma vida a menos. Prova disso são os índices de mortalidade infantil, provocados, em parte, porque faltam remédios nos postos de saúde. Vejamos apenas algumas informações: 1) Hospitais e ambulatórios se tornam "inadministráveis" porque médicos faltam com frequência ao serviço. 2) Existe um "pacto de fraude" com os hospitais privados, ao se pagarem os serviços contratados pelo setor público: "baixas remunerações unitárias pagas correspondem a seu faturamento posterior". 3) Ainda é ruim o sistema de auditoria das contas, o que permite fraudes e desvios. Quase 30% dos pagamentos estão irregulares. 4) Os recursos para investimentos transferidos para Estados e municípios "obedecem a critérios políticos em detrimento de critérios técnicos". 5) Cerca de 75% dos recursos vão para a medicina curativa (hospitais e ambulatórios), cujos procedimentos são mais caros. Não se privilegia a medicina preventiva. A conclusão do relatório deveria ser motivo de reflexão para os candidatos nessas eleições: "Os recursos são poucos, mas pode-se dizer, na grande maioria dos casos, gasta-se mal". Os homens públicos vivem ameaçando salvar a nação aumentando impostos –e, geralmente, conseguem. Tivessem a mesma "competência" para evitar desperdícios, o Brasil não teria indicadores tão vexaminosos. PS – A solução não precisa ser inventada. Basta cumprir a lei: descentralização e participação comunitária na fiscalização dos gastos de saúde. Texto Anterior: O descasamento Próximo Texto: Eia! Sus! Sus! Índice |
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