São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 1994
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Lula ainda resiste e faz PT manter Bisol

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A intervenção conjunta de Luiz Inácio Lula da Silva e da maioria da cúpula petista manteve, pelo menos momentaneamente, o senador José Paulo Bisol (PSB-RS) como candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Lula.
Bisol se reuniu ontem com Rui Falcão e Gilberto Carvalho, dirigentes petistas, e prometeu apresentar nas próximas horas documentos consistentes que provariam sua inocência nos casos em que é citado como beneficiário, entre outras coisas, de empréstimos bancários privilegiados.
Os emissários de Lula exigiram que Bisol desmentisse a intenção de apresentar a Lula uma carta com sua renúncia formal.
Argumentaram que, dessa maneira, o senador gaúcho criaria mais um problema para o candidato, que arcaria com o ônus público de qualquer decisão.
Bisol autorizou Falcão a negar a existência de uma carta-renúncia. Lula, que não gostara de saber que o senador gaúcho entregaria a ele a decisão pública de mantê-lo ou não na chapa, sinalizou então a Falcão que, pelo menos até hoje, Bisol continuaria como seu vice.
Lula e a cúpula petista reunem-se hoje de manhã em São Paulo para decidir o futuro de Bisol. O candidato presidencial reservou-se o direito de consultar amigos e assessores mais próximos antes de dar a palavra final.
Lula não quer, também, decidir antes de encontrar-se pessoalmente com Bisol, o que poderia ocorrer ontem à noite ou hoje de manhã.
"Nós discutimos com Bisol a estretégia para pôr fim a esse processo de calúnias", disse Falcão.
O presidente do PT preferiu atribuir aos adversários e "proprietários de meios de comunicação" o desejo de prejudicar a campanha de Lula com as denúncias que envolvem Bisol.
"Tudo indica que os empréstimos a Bisol na qualidade de deputado estadual não envolveram recursos públicos nem juros favorecidos", afirmou Falcão.
O atestado sem ressalva, no entanto, só será concedido se os documentos que o senador prometeu apresentar não forem passíveis de contestação na ótica petista.
Falcão, orientado por Lula e sabedor que a permanência de Bisol na chapa divide o PT e seus aliados, não garantiu que Bisol tem lugar assegurado como vice.
"Depois da conversa que tivemos hoje com Bisol, me surpreenderia a sua renúncia, mas a vida é sempre cheia de surpresa", declarou Falcão.
Gilberto Carvalho, secretário-geral do PT, afirmou que, na conversa com Bisol, o vice de Lula "deu segurança" aos interlocutores petistas que tem explicações convincentes para todos os episódios polêmicos em que seu nome é envolvido.
Não existia até ontem à noite nenhuma certeza sobre o desfecho do caso Bisol. Lula tem uma ligação emocional forte com Bisol e isso poderá contar a favor da manutenção do senador na chapa.
Mas a maioria dos conselheiros mais próximos a Lula analisa que a permanência de Bisol causará mais prejuízos à campanha.
O episódio já dividiu a frente que apóia Lula. O PSB acusa o PPS de "oportunista" por sugerir o caminho da renúncia a Bisol.

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