São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Crise ameaça institutos paulistas de pesquisa

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os 17 institutos de pesquisa do Estado de São Paulo passam pela pior crise de sua história, e um sintoma pode ser visto nos últimos contracheques de seus cientistas.
Em média, eles receberam apenas 43% do salário dos pesquisadores no mesmo nível de carreira das universidades estaduais, apesar de a lei garantir paridade (veja quadro ao lado).
O governo reconhece a perda, mas alega que não tem dinheiro para pagar a diferença.
A crise afeta tanto os pesquisadores como os funcionários técnicos que os assistem.
"A situação é catastrófica. Muita gente está querendo ir embora", diz Isaias Raw, diretor do Instituto Butantan. "Outro dia descobrimos um funcionário dormindo no banheiro porque não tinha dinheiro para voltar para casa de ônibus", diz Raw.
"A crise vai acontecendo aos poucos, há uma acomodação de todos os lados, apesar de alertas seguidos", diz o diretor do Instituto Agronômico, Ondino Cleante Bataglia, que preside o Fórum dos Diretores dos Institutos de Pesquisa. O resultado são funcionários de um instituto que tem 107 anos de tradição em pesquisa tendo que morar em favelas. "É humilhante", diz Bataglia.
Os 17 institutos estão ligados a quatro secretarias estaduais diferentes (leia texto ao lado).
As negociações entre os pesquisadores e o governo passam também pela Secretaria da Administração e Modernização do Serviço Público. "É um problema de disponibilidade financeira da Fazenda", diz o secretário da Administração, Avanir Duran Galhardo.
Para Galhardo, os secretários têm procurado corrigir os problemas, mas esbarram na falta de recursos. Uma lei aprovada no ano passado deveria, teoricamente, resolver o problema da defasagem salarial. "Há a lei, tudo bem, mas é preciso haver dinheiro para pagar. Quem tem a última palavra é a Fazenda", afirma o secretário.
"O custo dessa correção sairia pequeno para o orçamento do Estado, algo como 0,3% ou 0,4% do ICMS", afirma Bataglia. "Depende de vontade política."
Os pesquisadores reclamam que o governador Luiz Antônio Fleury já prometeu resolver a situação por diversas vezes –geralmente em solenidades da área, por exemplo, quando da inauguração dos novos equipamentos de produção de vacina do Butantan.
"O país parou por causa de futebol, eleição e real", diz Raw. "O Butantan está a zero". Para sorte do instituto, os mais recentes investimentos em instalações foram feitos com verba federal.
"É uma continuidade da crise que já tem uns 40 anos", diz Antônio Carlos Pimentel Wutke, presidente da APqC (Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo).
O pior momento, até agora, tinha sido no começo da década de 70. O Instituto Agronômico chegou a perder a quarta parte de seu corpo técnico, atraídos por melhores salários nas novas universidades sendo criadas. "Até hoje são sentidas as sequelas daquela época", diz Wutke. "Um novo ciclo de evasões poderá ser fatal", afirma o pesquisador.

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