São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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O programa que mudou o Brasil - 1

LUÍS NASSIF

Quatro anos depois de ter sido anunciado, enfrentando desconfianças dos macroeconomistas, resistências de setores protegidos por um mercado fechado, e de ter sido erroneamente confundido como "neoliberalismo", a estratégia da "integração competitiva" da economia brasileira na economia internacional, já pode ser reconhecida como o mais importante e decisivo conjunto de programas desenvolvimentistas implantados do país desde o Plano de Metas de JK.
Sua importância não pode ser medida por metas quantitativas. E deve ser entendida no âmbito das limitações decorrentes de um período politicamente traumático.
Mesmo assim, em apenas quatro anos mudou a face da economia brasileira. Além de ter proporcionado avanços substanciais na estrutura industrial –decretando o fim da reserva de mercado de informática, por exemplo –logrou mudar a mentalidade empresarial brasileira.
A partir desse programa, os conceitos de produtividade e qualidade passaram a ter vida própria. As empresas modernas começaram a explorar suas próprias energias e capacidade de reação, abandonando décadas de dependência das ações de Estado.
Empresas públicas
Essas idéias germinaram em duas empresas públicas, dotadas de corpos técnicos de alto nível –a Petrobrás e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Na segunda metade dos anos 80 a Petrobrás deu início a um programa inédito de desenvolvimento de fornecedores. A equipe encarregada do programa era supervisionada por José Paulo Silveira e tinha, na área de suprimentos, o jovem engenheiro Antonio Maciel. Provavelmente foi o primeiro programa em larga escala a trabalhar com o conceito de qualidade total.
Para cumprir sua missão, o grupo percorreu o mundo, atrás de seminários, congressos, encontros com consultores internacionais.
No início, essa preocupação estava restrita aos setores gerenciais da Petrobrás. Com a descoberta da Bacia de Campos, a necessidade de segurança na exploração dos campos fez com que o programa se convertesse em meta de toda a diretoria.
Silveira tornou-se superintendente do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, de onde coordenou o programa de capacitação em águas profundas, que acabou transformando a Petrobrás na maior especialista mundial da matéria. Enquanto isto, Maciel assumia a chefia da Divisão de Planejamento Estratégico da Petrobrás de 1988 a 1990, conquistando a visão macroeconômica que faltava para fechar a equação da produtividade.
O papel do BNDES
Simultaneamente, no BNDES, bem em frente à Petrobrás, um grupo de economistas liderados por Júlio Mourão desenvolvia a contrapartida macroeconômica da qualidade total, trabalhando o conceito da "integração competitiva na economia internacional".
No mundo moderno, diziam esses especialistas (com bases nos estudos do americano Michael Porter), não havia mais espaço para um país desenvolver-se como se fosse uma ilha. Cada país teria que se abrir e encontrar seu espaço em um novo mundo, internacionalizado e competitivo.
Integrava a equipe o jovem economista Luiz Paulo Velloso Lucas, incumbido da parte operacional dos estudos, colega de faculdade a amigo de Antonio Maciel.
Foi por volta de 1985, que esse grupo de técnicos juntou suas visões micro e macro –as teses da reestruturação competitiva da Petrobrás com as da integração competitiva do BNDES e iniciou trabalhos em conjunto.
Nas eleições presidenciais de 1989, muitos candidatos vieram se apoiar nos estudos do BNDES, entre os visitantes a futura Ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello.
Quando começou o governo Collor, Zélia convidou Velloso Lucas para o cargo de Diretor da Indústria e do Comércio –o departamento no qual havia se transformado o Ministério da Indústria e do Comércio, dentro da reforma administrativa do governo Collor.
Velloso Lucas foi e levou consigo o ex-colega Antonio Maciel, como sub-secretário. Simultaneamente, Silveira assumia a Secretaria Nacional de Tecnologia, permitindo a integração informal entre o Ministério da Tecnologia e o DIC.

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