São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Brasil x Itália, final e simulacro do futebol

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS ANGELES

Brasil e Itália carregam uma velha história de mágoas e revanches. Na verdade, mais de nossa parte do que vice-versa. Sim, porque tudo começou na Copa da França, em 38. O Brasil tinha um timaço e a Itália era a campeã do mundo. Cruzaram-se nas semifinais.
O Brasil estava desfalcado simplesmente do Romário da época, Leônidas da Silva, o Homem de Borracha, o Diamante Negro, o artilheiro da Copa e uma das três maiores celebridades brasileiras de então (os outros dois eram o ditador Getúlio Vargas e o cantor Orlando Silva). Domingos da Guia cometeu um pênalti em Piola, o Brasil perdeu de 2 a 1 e foi disputar o terceiro lugar com a Suécia, metendo-lhe uma goleada de 4 a 2, com Leônidas inteirinho em campo. Como se vê, o inverso do que acontece agora nesta Copa.
Os dois se reencontraram quase 20 anos depois, em 56. E foi uma tragédia em San Siro: 3 a 1 para a Itália, três gols de Virgili "Pecos Bill", um centroavante forte, grosso, mas matador, que tinha o perfil do herói em quadrinhos que serviria de mote para os western-spaghetti dos anos 60. De Sordi, jogando de central, testa sangrando, foi o herói-vilão dessa tragédia.
Um ou dois anos depois, não me lembro bem, mas sei que foi antes da Copa de 58, veio a revanche, no Maracanã. Zizinho comeu a bola e demos o troco, no jogo que marcaria a primeira transmissão de TV, ao vivo, do Rio para São Paulo, no sistema de microondas. Nestes tempos de satélites, não dá pra acreditar que ginástica tínhamos de fazer para decifrar as sombras que se moviam por trás dos chuviscos das imagens em preto e branco.
Depois, vieram a glória de 70 e a imensa tristeza de 82 Tristeza maior ainda não por ter sido o Brasil o perdedor. Mas porque o grande derrotado em Sarriá foi o futebol, como uma peculiar expressão de arte e beleza, além, claro, de sua porção competitiva. Pois no gramado de Sarriá, naquela tarde funesta, enterrou-se o futebol e semeou-se isso que aí está, um simulacro do jogo criado pelos ingleses e elevado à condição de espetáculo pelos húngaros de 54, pelos holandeses e alemães de 74 e pelos brasileiros de 58, 62, 70 e 82.
Restou apenas uma lembrança, de cada lado, do que seria: Romário e Baggio.

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