São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Hancock volta com jazz-rap em Montreux

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A MONTREUX

Foram quase três anos compondo, arranjando, experimentando sons e gravando, ou mesmo jogando tudo fora e começando novamente. Mas agora é definitivo: o tecladista Herbie Hancock volta às lojas e às fusões do jazz com o pop, em um esperado disco.
Atração principal de anteontem, no Montreux Jazz Festival, Hancock e sua Eletric Band deram uma mostra do que será "This Is Da Drum", álbum que a Polygram promete lançar em setembro.
Quem já ouviu as 11 faixas desse álbum, só pode ter uma certeza: a nova música de Hancock certamente não passará em branco. Além de uma evidente reciclagem de seus trabalhos eletrônicos dos anos 80, o jazzista americano finalmente oferece sua versão da "hypada" fusão do jazz com o rap e o hip hop.
"Acho que o melhor rótulo para o que faço nesse disco é música", disse o bem-humorado Hancock, algumas horas antes de seu show. "Eu odeio rótulos. Eles são apenas uma forma de limitação, e a criatividade jamais deve ser limitada. De certo modo, somos culpados disso, porque ajudamos a criar um mundo muito limitado."
Não foi à toa que Hancock abriu seu show em Montreux com uma versão eletrônica de "Cantaloop Island", sua composição dos anos 60, que sampleada pela banda de jazz-rap US3 se tornou um hit mundial, nos últimos meses.
"Fico feliz ao ver esses garotos sampleando minha música e agradando as pessoas com isso. Pensei que era o momento de mostrar como eu sinto essa música. Eu também adoro fazer as pessoas dançarem, suarem, se divertirem", disse Hancock.
Para a concretização de "This Is Da Drum", segundo Hancock, foram fundamentais, além da produção do percussionista Bill Summers (seu velho parceiro na banda Headhunters), as colaborações dos "hip hoppers" William Griffin e Darrell Robertson. Sem falar nas participações especiais dos jazzistas Wallace Roney (trompete), Hubert Laws (flauta) e Benny Maupin (sax e clarinete).
Só não diga a Hancock o que Wynton Marsalis, seu ex-parceiro em shows e gravações, pensa sobre o jazz-rap ou o acid jazz. "É só uma esperta forma que alguns músicos encontraram de ganhar dinheiro", disse ele à Folha, na semana passada.
"Antes de qualquer coisa, eu não tenho que responder nada a Wynton", disse Hancock, sem esconder uma certa irritação. "Quem é Wynton Marsalis? É apenas mais um músico, nada mais do que isso. Ele não é nenhum mestre e talvez nunca chegue a sê-lo. Só depende dele", alfinetou o tecladista.
Para Hancock, uma crítica como essa só deve ser ouvida com atenção se ela parte de um " verdadeiro mestre". "Quando ouvi as coisas que Wynton já disse sobre Miles Davis, fiquei desconfiado de que alguém deveria estar fazendo sua cabeça. Não acredito que Wynton seja um mau sujeito", disse.
"Trabalhei com Miles por cinco anos e meio e sempre tive o maior respeito por ele. Tenho certeza de que ele sempre foi sincero no que fez. Ele jamais fez qualquer tipo de música apenas para ganhar dinheiro. Eu só ouviria uma crítica como essa se viesse de um músico como Miles", completou Hancock.

O jornalista CARLOS CALADO viaja a convite da Warner e da Polygram

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