São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

N'Dour quer espírito africano e tecnologia ocidental em sua música

CELSO FIORAVANTE

O senegalês Youssou N'Dour durante show no Brasil em 88

O cantor Youssou N'Dour é um dos responsáveis, junto com amigos africanos como Salif Keita e Cheb Kaled, pela aceitação e difusão –via França– da música africana no mundo.
Revelado para o mundo por Peter Gabriel, que o incluiu na turnê da Anistia Internacional em 1988 (que chegou ao Brasil), mostrou ao mundo os segredos musicais africanos.
Antes dele, a world music local era encarada como simples percussão primitiva, sem viabilidade mercadológica fora do continente. N'Dour provou que a África é pop, mesmo se cantada em Wolof, o dialeto do cantor senegalês.
Em um das escalas de sua turnê norte-americana, N'Dour falou à Folha por telefone sobre seu novo disco("The Guide", lançado no Brasil pela Sony Music), sobre sua formação e seus convidados.

Folha - Como é Dacar musicalmente? O que você encontrou lá para se tornar cantor?
Youssou N'Dour - Me tornei cantor porque pertenço a uma família de griots, cantores e percussionistas que transmitem a história através de suas canções. Minha música tem toda a percussão africana e uma sonoridade moderna. É uma mistura. Dacar e cidades como Abidjã, na Costa do Marfim, possuem muitas coisas tradicionais e modernas ao mesmo tempo. Isso se reflete na minha música.
Folha - A colonização francesa contribuiu para a sua criação musical.
N'Dour - Tenho certeza que sim. mas não saberia explicar exatamente como essa influência se dá exatamente.
Folha - Sua música ainda mantém elementos da cultura griot ou ela já está muito ocidentalizada?
N'Dour - Existe o espírito de minha música, que é sempre espiritual, tradicional, mesmo que a sonoridade tenha se tornado um pouco mais moderna.
Folha - Você foi o precurssor da música senegalesa no mundo. Existe uma nova cena musical senegalesa? o que você acha de rappers como MC Solaar, que também é de Dacar?
N'Dour - Nunca vi um show seu ao vivo, mas conheço ele e sua música muito bem. Acho sua música muito interessante, principalmente suas letras, que são muito fortes. E a forma francesa dele fazer rap é muito particular e atraente. Hoje, no Senegal, existe uma nova geração de músicos que se interessa muito pelo hip hop e a mistura é muito boa.
Folha - A música cubana foi importante na sua formação musical?
N'Dour - Sim. A música cubana foi a primeira música popular no Senegal. No início de minha carreira cantava ritmos cubanos na minha língua.
Folha - No seu novo disco, "The Guide", você tem três convidados ilustres: a sueca Neneh Cherry, o norte-americano Branford Marsalis e o zairense Lokua Kanza. Como foi seu contato com eles?
N'Dour - Encontrei Neneh Cherry há seis anos, na Suécia, e sempre achei sua música muito boa. Ela tem muita classe. Infelizmente não foi possível fazer este duo antes. Agora estou contente. Conheci Marsalis em 88, na turnê a Anistia Internacional, e desde então tocamos juntos. Para mim, Lokua Kanza é jovem músico africano que mais me interessa. Ele é realmente uma estrela.
Folha - Qual a sua maior preocupação política atualmente?
N'Dour - A liberdade e a paz no mundo são muito importantes, mas é preciso imediatamente um engajamento para que haja um maior respeito em relação às crianças do mundo.

Texto Anterior: BLUE NOTES
Próximo Texto: Sacrifícios nunca ocorrem em vão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.