São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 1994
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Cultura que busca o prazer preza a boa comida

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Crédito Foto: Sofia Carvalhosa/Folha Imagem
Observações: ACONTECE SÃO PAULO; COM SUB-RETRANCA
Vinheta/Chapéu: \<FD:"VINHETA-CHAPÉU"\>NO MUNDO\</FD:"VINHETA-CHAPÉU"\>
Assuntos Principais: ENTREVISTA
Cultura que busca o prazer preza a boa comida
Em 1980, a jornalista norte-americana Patricia Wells deu uma inesperada virada em sua vida. Seu marido, também jornalista, foi convidado a trabalhar para o "International Herald Tribune", em Paris. Como ela escrevia sobre comida em Nova York, acharam uma boa idéia passar uns tempos na meca da gastronomia.
Ela foi a primeira estrangeira –e mulher– a fazer crítica gastronômica no semanário "L'Express". Hoje, Patricia Wells divide seu tempo entre Paris e uma casa na Provence, faz crítica de restaurantes no mesmo jornal que o marido –onde no momento dedica-se a descobrir os dez melhores restaurantes do mundo– e às vezes se pergunta o que fez para merecer esta vida.
Escreveu dois livros deliciosos –"Food Lover's Guide to Paris" e "Food Lover's Guide to France"– antes de "Cozinha de Bistrô" (lançado aqui pela Ediouro). Em junho, participou do evento Aspen Food & Wine Classic, no Colorado (EUA) e falou à Folha.

Folha - Como nasceu a idéia do livro "Cozinha de Bistrô"?
Patricia Wells - Depois de lançar meus guias, um dia meu editor me ligou de Nova York; ele tinha saído de uma péssima refeição e perguntou por que não fazer um livro de boa cozinha caseira francesa. Foi meu livro mais divertido, eu o preparei nos fins-de-semana, cozinhando para a família, e o concluí em 1987.
Folha - Quantos livros você fez depois?
Wells - Depois veio "Simply French", que fiz com o chef francês Joel Robuchon. Foram quatro anos de trabalho, onde procurei traduzir as idéias de um grande chef para a escala caseira.
Nesta época, viajei à Itália e um dia fui comer em uma "trattoria". Quis saber como era feito um prato e, de repente, me vi na cozinha. Aí começou o livro "Trattoria".
Folha - Ao mudar para a França, que diferenças você sentiu entre a culinária que você conheceu nos EUA e no novo país?
Wells - São radicalmente diferentes. Embora a cozinha americana tenha melhorado muito, a França tem uma dimensão histórica, de tradição, que nós americanos não temos e talvez nunca tenhamos.
Folha - Também a França vive mudanças importantes em sua culinária...
Wells - Sim, mudanças profundas, mas muito positivas. Sempre tendo como fundamento a cozinha clássica, mas tratando com mais respeito os ingredientes, procurando seu lado saudável, escolhendo produtos mais frescos e variados.
Hoje queremos saber de onde os ingredientes vieram. Atualmente o máximo é obter a essência dos ingredientes que se usa.
Folha - Os bons produtos estão ameaçados pelas padronizações da União Européia?
Wells - Os bons produtos sempre existirão para quem se importar com eles. A boa comida é algo que oferece tal prazer que qualquer cultura que busque prazer jamais vai poder rejeitá-la.
É verdade que, mesmo na França, só uma pequena parcela da população realmente valoriza a qualidade. Mas a quantidade de bons produtos, mesmo que pequena, é sempre suficiente para a demanda.
Folha - Há quem diga que a cozinha francesa começa a ser suplantada pela italiana, que estaria tomando conta da Europa e do mundo...
Wells - Isto é loucura. A comida italiana está cada vez mais popular, mas se você vai a uma casa francesa, você não come spaghetti à carbonara ou algo assim. Nem na Espanha ou no sul da França.
As pessoas podem ir de vez em quando a um restaurante italiano, mas isto não muda a cozinha destes países, sua riqueza gastronômica.
Eu adoro cozinha italiana, mas a francesa também. E você pode ter dois ou três amigos. Não precisa gostar de um só.

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