São Paulo, sábado, 16 de julho de 1994
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Berlusconi aposta cargo contra prisão de suspeitos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo italiano ameaçou renunciar se o seu decreto que impede a prisão preventiva de suspeitos de corrupção for derrubado pelo Parlamento.
O decreto, emitido anteontem, mantém o poder dos promotores de pedir prisão preventiva só para casos de envolvimento com crime organizado, tráfico de drogas e terrorismo.
Os promotores responsáveis pela Operação Mãos Limpas –Antonio Di Pietro, Piercamillo Davigo, Francesco Greco e Gherardo Colombo– anunciaram que se afastariam por se sentirem cerceados com o decreto.
Cerca de 2.000 pessoas presas por causa da operação anticorrupção que mudou o panorama político italiano serão beneficiadas pela nova lei. A prisão preventiva foi largamente usada pelos promotores para levar suspeitos presos a fazer denúncias.
A possibilidade de manter um suspeito preso, mesmo sem acusação formal, por tempo indeterminado começou a ser fortemente criticada no ano passado. O industrial Gabriele Cagliari e o milionário Raul Gardini se suicidaram dias antes de serem presos pela Operação Mãos Limpas.
O decreto já está em vigor. O Parlamento tem 60 dias para votá-lo. Se nada for decidido nesse prazo, o decreto cai.
O primeiro-ministro Silvio Berlusconi disse que o decreto foi aprovado unanimemente por seu gabinete. "Não vejo nenhuma necessidade de mudá-lo", disse.
Berlusconi defendeu a medida dizendo que a "Itália precisa continuar um Estado de lei. É preciso parar de transformá-la num Estado policial". Numa tumultuada entrevista coletiva, o premiê criticou o abuso que promotores estariam fazendo da lei para se promover.
"Eles ficam desapontados se seus nomes e rostos não aparecem na TV ou nos jornais", disse.
"E que melhor maneira de ser o centro das atenções do que tomando medidas que tiram a liberdade de alguém e põem as pessoas na cadeia?"
Berlusconi não tem a maioria no Senado. Mesmo na Câmara, onde tem maioria, o premiê enfrentará seu primeiro grande teste político.
Membros da Aliança Nacional e da Liga Norte –integrantes da coalizão de governo– se mostraram dispostos a emendar o decreto para incluir corrupção entre os crimes passíveis de prisão preventiva.
Berlusconi -cujo irmão Paolo esteve preso por algumas semanas antes das eleições– disse que seu decreto não impede investigações nem os processos contra corruptos.
O fiscal geral de Milão, Giulio Catelani, disse que a Operação Mãos Limpas continuará e que ele confia em que todos os envolvidos nela continuarão em seus postos.
Catelani diz não ter recebido nenhum pedido de desligamento do caso de Di Pietro ou seus colegas.
"Esses promotores não pediram para mudar de posto. Se pedirem, veremos", disse Catelani.

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