São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Transplante de coração deixa de ser um "mito"

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O transplante cardíaco é hoje um método conhecido e seguro para pessoas que não podem mais contar com seu próprio coração.
Em São Paulo, vários hospitais já realizam a cirurgia (Incor, Hospital do Coração, Instituto Dante Pazzanese, Hospital São Paulo e a Beneficência Portuguesa são alguns deles).
Dados da Central de Transplante de Órgãos da Secretaria de Estado da Saúde revelam que foram realizados 37 transplantes de coração no primeiro semestre de 94 na Grande São Paulo.
Sem um transplante, as pessoas que sofrem uma "falência" cardíaca têm uma expectativa de vida inferior a seis meses.
Segundo Jarbas Dinkhuysen, chefe do setor de transplante cardíaco do Instituto Dante Pazzanese, a "falência" é a perda da capacidade de contração do coração.
A musculatura dos ventrículos (câmaras cardíacas que bombeiam o sangue para os pulmões e para o resto do organismo) deixa de funcionar como uma "bomba" eficaz.
Infartos repetidos, doença de Chagas, alcoolismo, problemas nas válvulas cardíacas e até uma imprevisível resposta a infecções podem levar o coração ao colapso.
Durante a gestação, algumas mulheres podem desenvolver uma insuficiência cardíaca grave e irreversível. Elas também vão precisar de transplantes.
Dinkhuysen explica que recursos "temporários" podem ser empregados enquanto a pessoa espera um transplante.
Alguns doentes fazem pulsos de inotrópicos (altas doses por tempo curto de drogas que aumentam o poder de contração do coração).
Outra possibilidade é uma espécie de "bomba" artificial que é ligada aos grandes vasos do coração e fica fora do corpo (sistema de assistência circulatória por bomba centrífuga).
O doente pode usar essa "bomba" por cerca de duas semanas.
"Apenas duas em cada dez pessoas que precisam de um transplante, acabam sendo levadas para a cirurgia", diz Dinkhuysen.
Só uma criteriosa avaliação das condições clínicas, sociais e psicológicas credencia o doente.
Doenças incuráveis ou de difícil controle, falta de higiene, desequilíbrios psíquicos e dependência de drogas são algumas condições que inviabilizam um transplante.
Mais de 400 transplantes já foram realizados em todo país. 95% dos operados tiveram alta do hospital. 85% estavam vivos nos dois primeiros anos após a cirurgia e 60% passaram dos dez anos.
"O transplante é mais do que uma simples cirurgia. Ele é um verdadeiro resgaste. O método deixou de ser um mito para se tornar uma possibilidade concreta", diz.
Melhores resultados dependem agora do desenvolvimento de novas drogas imunossupressoras (leia texto abaixo) que causem menos efeitos colaterais.

Texto Anterior: Psiquiatra estuda casos de neurocisticercose
Próximo Texto: Recuperação exige cuidados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.