São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

À porta do paraíso

Pelo menos dois brasileiros foram detidos por autoridades de imigração de países do Primeiro Mundo nas últimas semanas –um comerciante em Nova York e uma estudante em Roma– e receberam delas um tratamento ofensivo e humilhante. Longe de constituir-se em fatos isolados, os dois episódios são sintomáticos de uma situação em que, no intuito compreensível de defender suas fronteiras contra a invasão de imigrantes indesejados, alguns países ricos têm-se permitido uma alta dose de arbitrariedade no tratamento de seus visitantes.
Nesse quadro de desconfiança generalizada –quando não de puro preconceito e etnocentrismo–, cidadãos honestos correm o risco de ser tratados como marginais, num flagrante desrespeito a direitos humanos fundamentais que essas próprias democracias avançadas encarregaram-se historicamente de consolidar e difundir. Não por acaso, frequentemente o sentimento que domina os viajantes mal tratados nos aeroportos estrangeiros é menos o de revolta que o de frustração, de desapontamento diante de fatos que negam uma expectativa anterior de entrar em contato com uma sociedade mais democrática e civilizada.
Um primeiro passo para que não se perpetue esse tipo de arbitrariedade é o estabelecimento e a divulgação, por parte de cada país, de regras claras para a admissão de visitantes em seu território.
A longo prazo, contudo, a situação só será resolvida se se atacar o motivo principal do controle severo nos portos e aeroportos: a pressão migratória dos países pobres em direção aos ricos. E esse problema só poderá ter solução se diminuir o desequilíbrio entre estes e aqueles.
Os países do Primeiro Mundo encontram-se diante de um claro dilema. Se não querem ser obrigados a levantar muralhas intransponíveis em suas fronteiras para conter os movimentos migratórios, é de seu próprio interesse contribuir, através de investimentos, para o desenvolvimento das partes mais pobres do planeta. Se um mínimo de prosperidade não chega até elas, a tentação natural é que muitos de seus habitantes a procurem onde ela se encontra. No Primeiro Mundo.

Texto Anterior: A SBPC
Próximo Texto: Bota o rei Congo no congado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.