São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleição e irrigação

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Na defesa que faz do projeto de transposição de águas do rio São Francisco para quatro Estados do Nordeste, o ministro Aluízio Alves revela um dado impressionante.
O custo total do projeto -que consiste na elevação do São Francisco até nivelá-lo com os leitos naturais de rios quase secos que atravessam o semi-árido de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará– é de US$ 2 bilhões.
É muito ou é pouco? Para quem acha, como eu, que é muito, o dado do ministro que impressiona: entre março de 93 e março de 94 o governo federal gastou exatamente a mesma quantia no Nordeste em medidas apenas paliativas.
Para se ter uma idéia, foram gastos US$ 1,1 bilhão no pagamento de meio salário mínimo para famílias com no mínimo dez membros; US$ 600 milhões em comida; e US$ 300 milhões na distribuição de água (carro-pipa).
O dinheiro gasto anualmente nos programas assistenciais não resolve o problema da seca e mal atenua a miséria.
Quem se beneficia desta política exclusivamente assistencialista? A distribuição de recursos para dimininuir os efeitos da seca sem extingui-los dá força às modernas formas de coronelismo.
Cada carro-pipa, cesta básica ou emprego temporário em frente de trabalho é instrumento de barganha eleitoral e de dominação política.
O projeto do ministro resolve o problema da seca nordestina? Não tenho como avaliar. Ele acha que resolve parcialmente nos quatro Estados citados.
Está convencido de que vai permitir, além do abastecimento regular de água nas cidades da região, a multiplicação de novos projetos de irrigação.
Já há oásis produtores e exportadores de frutas bem-sucedidos em Pernambuco e no Rio Grande do Norte que servem de sustentação para a tese.
O projeto do governo abre duas frentes de discussão: o projeto em si (é necessário? oportuno? caro? eleitoreiro? está sendo tocado sem irregularidades?) e a solução para a seca nordestina.
Os candidatos à Presidência deveriam se pronunciar sobre propostas concretas como esta. É uma maneira de baixar um pouco o tom demagógico dos programas de governo e de confrontar estes programas com a realidade.

Texto Anterior: Falta-nos o pão
Próximo Texto: Divisor de águas?
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.