São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atrito com Itamar Franco faz Osiris pedir demissão

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário da Receita Federal, Osiris Lopes Filho, anunciou ontem seu pedido de demissão do cargo. Ele disse que sua decisão foi precipitada pela liberação da bagagem dos jogadores da seleção brasileira na alfândega do Rio, determinada pelo Palácio do Planalto contra sua vontade.
O inspetor da Receita na alfândega do Aeroporto do Rio de Janeiro, Sá Freire, acompanhou a decisão de Osiris e deixou o cargo.
"Foi a gota d'água", disse Osíris, ao chegar às 10h30 ao Ministério da Fazenda, já com a decisão tomada.
Nos últimos meses Osiris enfrentou uma série de desgastes, tanto com o Palácio do Planalto como junto à equipe econômica. Anteontem, decidiu deixar o Ministério, após um ano e dois meses à frente da Receita.
Osiris despediu-se ontem de seus subordinados com um discurso emocionado. "Chegou o momento de dar o exemplo com os heróis dos tempos atuais, mas não consegui", disse, com lágrimas nos olhos.
Cerca de 17 toneladas de bagagens da seleção brasileira foram liberadas de inspeção na alfândega do Aeroporto do Rio, com prejuízo para os cofres públicos calculado em US$ 1 milhão pela Receita.
Nem o Planalto nem a Fazenda assumem a responsabilidade pela liberação.
O alvo principal de Osiris ontem, porém, foi o presidente Itamar Franco. Ele disse aos jornalistas ter entrado em um "conflito com o presidente da República, em termos de concepção".
"São concepções diferentes, e eu sinto que, em uma linha de desenvolvimento, as oposições seriam muito fortes".
Para Osiris, foi desrespeitado o "princípio da isonomia, de que todos são iguais perante a lei". "Se isso não pode ser praticado com liberdade, é o momento de partir".
Ele adotou um tom mais duro no discurso de despedida aos auditores fiscais, depois de ter apresentado sua demissão ao ministro Rubens Ricupero.
Diante de servidores e jornalistas, Osiris falou por 20 minutos de suas realizações no cargo, e acusou setores do governo de não apoiarem o combate à sonegação.
"Fui me sentindo ilhado e isolado em meus esforços", disse.
Osiris listou diversos casos de sonegação, a maioria denunciados por ele anteriormente. "Os ricos não pagam impostos nesse país, mas o Estado dá todas as garantias à sua riqueza".
Disse que as operações de comércio exterior são feitas com subfaturamento ou superfaturamento, para burlar o fisco.

LEIA MAIS
sobre a Receita e a seleção no caderno Tetra 94

Texto Anterior: BC faz juro cair dois pontos no over
Próximo Texto: Presidente se irrita com reação negativa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.