São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Presidente se irrita com reação negativa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco ficou irritado com a repercussão negativa da decisão do governo de liberar a bagagem da seleção brasileira sem a cobrança de impostos.
Na noite de terça-feira e início da madrugada de quarta, quando participou da decisão, o presidente não imaginava que o secretário da Receita, Osiris Lopes Filho, fosse aproveitar-se da situação para pedir demissão, saindo como herói.
Auxiliares de Itamar lamentavam ontem que o governo, num instante em que goza de boa popularidade, graças ao Plano Real, tenha se complicado com um episódio que poderia ter sido evitado.
O caso abriu uma guerra no Planalto. Alguns auxiliares de Itamar responsabilizam o ministro-chefe do Gabinete Civil, Henrique Hargreaves, pela trapalhada.
Hargreaves foi o principal responsável pela pressão em favor da liberação da bagagem. Ele convenceu Itamar de que o Ministério da Fazenda deveria agir. Autorizado pelo presidente, arrancou Rubens Ricupero da cama às 23h30.
Antes, por volta de 22h, já havia conversado com Osiris. Osiris fez um relato sobre as orientações que dera aos fiscais do Rio: a "bagagem acompanhada" (malas de mão), deveria ser liberada.
Mas a "bagagem desacompanhada" (grandes volumes) deveria ser vistoriada. Seria cobrado 100% do valor da nota fiscal de tudo aquilo que excedesse a US$ 500, exatamente como manda a lei.
Em princípio, Hargreaves dera-se por satisfeito. Perto de 23h15, porém, recebeu nova ligação do presidente da CBF. O ministro ainda estava no Planalto. Ricardo Teixeira transmitiu-lhe uma ameaça dos jogadores.
"Temos um problemão aqui. Se a bagagem não for liberada já, os jogadores não vão desfilar em carro aberto".
Teixeira disse ainda a Hargreaves que temia que os torcedores invadissem o aeroporto do Rio.
Hargreaves tentou localizar novamente Osiris. Antevendo a pressão, porém, o chefe da Receita foi jantar fora. Estava com a mulher, Malvina, no restaurante japonês Mitsuba. Seu telefone celular foi caprichosamente desligado.
Osiris já pressentia os problemas desde a hora do almoço. Em encontro casual com o ministro Alexis Stepanenko, Osiris disse: "Vamos ter problemas com a bagagem da seleção".
Como não localizou Osiris, Hargreaves apelou para Ricupero. A filha do ministro da Fazenda, Mariana, foi chamá-lo no quarto. Dessa vez foi Ricupero que saiu à caça de Osiris. Sem sucesso.
Ricupero localizou apenas o adjunto de Osiris, Sálvio Medeiros. Este repetiu as determinações que Osiris falara a Hargreaves.
Em novo contato com o Planalto, às 0h15 de quarta-feira, Ricupero disse que tudo estava sob controle. Foi informado por Hargreaves do contrário.
Pela segunda vez, Ricupero tentou achar Osiris, sem sucesso. Resolveu então telefonar direto para a alfândega. Como não localizou Sá Freire, inspetor da alfândega do Rio, contentou-se em falar com Belson Pureza, chefe de bagagem.
Foi informado de que a bagagem da seleção e de toda a delegação brasileira já havia sido liberada. Pureza lhe disse que obteve uma lista com os produtos liberados, para fiscalização posterior.
Ricupero elogiou a decisão do funcionário antes de desligar o telefone.
Hargreaves nega que tenha solicitado a liberação. Diz que fez apenas o papel de mensageiro do pleito de Teixeira ao governo.
O episódio da bagagem reabriu velhas feridas entre auxiliares de Itamar. Osiris havia sido indicado para a Receita por Mauro Durante, secretário geral da Presidência.
Durante e Hargreaves disputam espaço junto a Itamar. Hargreaves disse a Itamar que, no caso da bagagem, Osiris estava querendo aparecer.

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