São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Especialistas e pai discutem aborto de feto malformado

DA REPORTAGEM LOCAL

O direito de os pais poderem decidir ter ou não um filho após o diagnóstico de que a criança tem uma malformação foi a principal discussão do segundo debate sobre aborto realizado pela Folha na sexta-feira passada.
Participaram do debate, mediado pelo coordenador de artigos e eventos da Folha, Otávio Dias, Zilda Arns Neumann, da Coordenação Materno-Infantil do Ministério da Saúde, o médico Thomaz Gollop, professor do curso de pós-graduação em genética médica do Instituto de Medicina Legal da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Paulo Roque Monteleone, do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, e o ex-juiz do Trabalho Heitor Roberto Tommassini, pai de uma criança portadora de Síndrome de Down.
Gollop, que afirmou em entrevista à Folha já ter realizado aborto em fetos malformados, disse que a ciência avançou, podendo garantir se o feto terá ou não chances de sobreviver após o nascimento, mas que o Código Penal, não, permitindo a interrupção da gravidez apenas em caso de estupro ou risco de vida para a mãe.
Segundo Gollop, alguns juízes estão tendo mais bom-senso que médicos ao autorizar abortos em casos de fetos malformados.
Pedro Paulo Monteleone, do Conselho Regional de Medicina, discordou de Gollop. "Não posso entender o avanço tecnológico da medicina que, diagnosticando uma síndrome fetal compatível com a vida, acaba com a vida."
"É a mesma coisa que querer acabar com a pobreza do país fuzilando todos os pobres", disse Monteleone.
Zilda Neumann afirma que a solução é o planejamento familiar. "Naturalmente é mais fácil eliminar os fracos do que fazer com que o Brasil dê mais oportunidade de estudo e de saúde à população", disse.
Tommassini, pai de um portador de Síndrome de Down, é a favor da descriminalização do aborto. Ele destacou que sua família teve plenas condições para cuidar da criança, "mas a realidade da sociedade é outra".
"Direito humano é o Estado garantir, antes da concepção, comida e teto para a família. A maior violência do país não é o aborto, é a morte por inanição", disse.
A polêmica sobre o aborto de fetos malformados apareceu após a entrevista que Aníbal Faundes, diretor do Caism (Centro de Assistência Integral à Mulher), deu à Folha no final de junho. Ele afirmou que no Caism, ligado à Unicamp, era feito esse tipo de aborto.

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