São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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CBF é a responsável pelo 'vôo da muamba'

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Confederação Brasileira de Futebol é a principal responsável pelo escândalo da sonegação de taxas alfandegárias que envolveu a delegação brasileira na volta dos Estados Unidos.
Ninguém nega aos jogadores tetracampeões do mundo o direito de comprar o que quiserem no exterior. Desde que se submetam às regras de importação válidas para qualquer cidadão brasileiro.
Ninguém também queria que eles ficassem acompanhando a liberação da bagagem no aeroporto. Heróis nacionais, eles mereciam serem liberados desse procedimento burocrático. Mas não de suas obrigações fiscais. Afinal, todos eles têm dinheiro suficiente para isso.
Ninguém condena ainda o desejo de adquirir produtos estrangeiros. Muitos são superiores aos equivalentes nacionais. Além disso, o consumo de importados já virou culto nacional, entre os que têm dinheiro para isso.
O equívoco inicial nessa rocambolesca história partiu da chefia da delegação, que errou duas vezes.
Primeiro, os dirigentes não orientaram jogadores e comissão técnica sobre o assunto. Era fácil evitar o escândalo. O caso poderia até virar marketing positivo para o futebol e para o governo.
Bastava que a CBF pagasse as taxas de importação para os jogadores, a título de prêmio, mais do que merecido. Seriam cumpridas as normas e a CBF daria uma demonstração de que a lei vale para todos. Um exemplo para o país.
O segundo equívoco foi o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ter defendido a sonegação das taxas devidas, ameaçando devolver as condecorações recebidas do presidente Itamar Franco caso a bagagem não fosse liberada.
Novamente, era uma questão simples de se solucionar. Bastaria a CBF explicar que não houve intenção de burlar a lei e procurar uma solução que não deixasse indignados milhões de brasileiros que pagam seus impostos.
Essa sequência de fatos absurdos dá margem a duas conclusões:
1. Houve inépcia administrativa e de marketing da direção da CBF, responsável pela ida aos EUA (sabe-se que o chefe teórico da delegação, Mustafá Contursi, presidente do Palmeiras, foi uma figura decorativa nesta Copa).
2. Houve intenção deliberada da direção da CBF de promover um "vôo da muamba", estimulando os 95 passageiros (entre jogadores, comissão técnica, acompanhantes e convidados) a infringir a lei. A CBF deveria saber que é inconstitucional liberar qualquer cidadão do cumprimento da lei.
Seja qual for a conclusão correta, a CBF conseguiu transformar a comemoração do tetra num ridículo escândalo de sonegação, maculando a maior conquista do futebol brasileiro desde 1970.
Afinal, esse é o principal assunto da imprensa, tanto paulista como carioca, nestes dias.

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