São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Vic Militello encena saudades do circo-teatro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Vic Militello é um caso à parte no teatro. Já no espetáculo que apresentou em São Paulo, ano passado, estava claro que os seus parâmetros são outros. Diálogo, personagens, trama, coisas assim perdiam o sentido. Mais importante, seu teatro de terror, que se proclamava um teatro horroroso, não se levava a sério.
Não levava a sério nem mesmo seu próprio humor. Era tão popular ou popularesco quanto Dercy Gonçalves, mas Dercy ainda pretende fazer rir, ainda busca a piada certa que cause reação no público. Vic Militello simplesmente montava a cena e não dar certo, não ser engraçado, parecia fazer parte da graça da peça.
"No Tempo da Apoteose", sua nova peça, que abriu a Jornada Sesc, este ano voltada para os musicais, não tem a irresponsabilidade deliciosa que tornou o teatro de terror um cult da cidade. Baseada, ao que diz o programa, no livro de memórias da mãe da própria diretora, "No Tempo da Apoteose" tem saudades demais.
Não que o circo-teatro, onde aconteciam as "apoteoses", que são os números musicais da peça, não tenha lá as suas qualidades. Mas a narração tipo no-tempo-da-carochinha e a própria datação dos números musicais, com canções antigas, interessantes, mas antigas, fazem a platéia ver tudo com olhos distantes.
Nada do envolvimento brincalhão que terminou provocando o culto ao espetáculo anterior. Mas Vic Militello, como se disse, é caso à parte no teatro. É por demais esculachada. É assim em números ou "apoteoses" como a da Serra da Mantiqueira, sobre um filho que morre na guerra, a da Lenda Árabe, a dos caubóis.
Em algumas "apoteoses", a maioria, na verdade, por trás do humor há grande tristeza e até religiosidade. É assim com o número sobre a freira que vai ao céu com a Virgem Maria e torna-se santa. É das mais engraçadas e, ao mesmo tempo, das mais emocionadas. Tanto que parte do público acompanha, cantando a música.

Evento: Jornada Sesc
Hoje: Às 21h, "Hagoromo", de Motokiyo Zeami, tradução de Haroldo de Campos
Onde: Teatro Sesc Anchieta (R. Dr. Vila Nova, 245, tel. 011/256-2322)
Quanto: R$ 1,00 e R$ 0,50 (para comerciários e estudantes)

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