São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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O símbolo PC

A morte de Elma Farias, a mulher de PC Farias, abre espaço para que se coloque em discussão, uma vez mais, a necessidade de introduzir penas alternativas às de prisão para crimes cujos autores não representem uma ameaça física à sociedade.
O caso de PC se enquadra nitidamente nessa categoria. Todos os crimes de que é acusado devem ser exaustivamente investigados e, uma vez comprovados, punidos com o máximo rigor. Mas parece claro que se PC, em vez de ficar na prisão, cumprisse penas alternativas adequadas, inclusive pecuniárias, não sairia por aí assassinando pessoas ou praticando qualquer outro tipo de violência física.
É até o caso de indagar o que a sociedade ganha com a prisão de PC, em condições de resto privilegiadas. Voltou aos cofres públicos um centavo do que o tesoureiro de Collor eventualmente desviou? Não só não voltou como o Estado está tendo novos gastos com o acusado.
Mesmo que se considere PC ainda perigoso, não pela violência que empregou nos crimes de que é acusado, mas pela hipótese de repetir os esquemas daninhos em que se especializou, a prisão não se justifica. Nada impede que, do quartel a que se encontra recolhido, articule manobras do gênero. Prova-o o fato de que os chefes de quadrilha presos em cadeias bem mais rígidas continuam dirigindo negócios criminosos com enorme desenvoltura.
Acresce que há duas crianças envolvidas, os filhos de PC, agora privados também da mãe. Decerto há inúmeros filhos de anônimos na mesma situação. Mas é exatamente a partir de casos de repercussão que se pode tratar de problemas que afetam também os anônimos.
O fato de PC ter fugido do país, logo que sua prisão preventiva foi decretada, torna realmente mais delicada a questão da pena alternativa no seu caso. Mas parece claro que a prisão de PC tem um caráter mais emblemático do que propriamente punitivo. Afinal, o esquema Collor-PC envolvia milhões de dólares e dezenas de pessoas. Lamentavelmente, nenhum centavo foi ainda devolvido ao Erário e só PC se encontra preso. Confortavelmente.

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