São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Juros em queda

Foi com a correta intenção de forçar os preços para baixo e impedir a fuga da poupança que o governo elevou fortemente as taxas de juros neste início de mês. Mas, ao implementar essa política, houve um visível erro na dose.
Ainda que já estivesse anunciado que os juros deveriam cair, o exagero de uma taxa bruta de 12% ao mês, como a que prevaleceu no início de julho, tornou ainda mais urgente essa redução. A queda iniciou-se, lentamente, há uma semana. A brusca variação de ontem, que fez a taxa ceder de 10,3% para de 8,1% ao mês, parece indicar que o BC enfim reconheceu a necessidade de acelerar o ritmo das reduções. De fato, projeta-se já para agosto taxas líquidas de 3% a 4%.
No delicado equilíbrio de conter os preços sem, por outro lado, jogar o país em uma recessão, a mudança no patamar de juros parece ser um ajuste de sintonia. Mesmo assim, as taxas praticadas no Brasil ao mês ainda são superiores àquelas oferecidas ao ano nas principais economias do mundo.
Ainda que parte dessas altíssimas taxas esteja compensando a acentuada aceleração da inflação nos últimos dias de junho –que será captada nos índices de julho– não há como ignorar o contraste entre o excepcional custo do crédito, de um lado, e, de outro, os salários, tarifas e taxa de câmbio, que estão praticamente fixos.
O expressivo ajuste de ontem alinha-se à demanda de empresários que se reuniram em São Paulo para pedir juros e impostos mais baixos.
De fato, há quem acredite que estaria se aproximando o limite de resistência antes do qual se iniciaria um processo recessivo. Contudo, se os empresários têm razão ao afirmar que a manutenção das estratosféricas taxas financeiras tornam quase inviável a atividade produtiva, muitos deles não tiveram motivo –a não ser os de caráter especulativo– para puxar fortemente os preços às vésperas do real.
O fato é que não se pode combater um mal criando outro talvez ainda maior. Correr o risco de uma brutal recessão para punir exageros nos preços seria como incendiar a casa para assar o leitão.

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