São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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A bofetada de Osiris

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Ao demitir-se ontem da Receita Federal, Osiris Lopes deu uma bofetada moral no presidente Itamar Franco. A crise agravou a repercussão da mamata oferecida aos jogadores de futebol na alfândega. Resultado: o governo federal disseminou a suspeita generalizada de conivência com a sonegação.
Na sua crônica mediocridade, Itamar Franco está pagando o preço por dois erros: 1) ter aceito a chantagem do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ameaçando que a seleção não desfilaria no Rio; 2) querer faturar politicamente a qualquer custo com a euforia do tetra.
O presidente Itamar Franco e seus assessores não perceberam que o país está mudando –e para melhor. Basta ver ontem a indignação popular: os jogadores são considerados heróis e merecem festa, mas nada lhes dá o direito a ferir a lei.
Goste-se ou não (e muitos não gostam), Osiris Lopes transformou-se em símbolo de rigor contra os sonegadores. Apanhou dentro e fora do governo mais por suas virtudes do que defeitos. Durante sua gestão, entrou mais dinheiro nos cofres públicos, o que foi batizado de "efeito Osiris".
O "efeito Osiris" se volta, agora, contra o governo, jogando o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda na parede. Passam a imagem de que são flexíveis com a sonegação, dependendo da conveniência.
Óbvio que se a partir de agora a arrecadação cair por qualquer motivo, o desgaste desaba no Palácio do Planalto –e, aí, a nação vai pagar ainda mais caro do que R$ 1 milhão deixado de arrecadar da seleção.
PS – O episódio mostra que Itamar Franco vale cinco "malufs". Em 1970, Maluf deu 22 fuscas à seleção brasileira, obrigado depois a pagar de volta na Justiça. A mamata da alfândega foi cinco vez mais cara. A diferença é que a decisão de Maluf recebeu antes aprovação da Câmara Municipal por maioria simples. E a do Palácio foi na surdina.

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