São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 1994
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Deuses sonegadores

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO – Os dirigentes da CBF e jogadores da seleção dizem que merecem as vistas grossas da Receita, pois estiveram no estrangeiro defendendo as cores nacionais. Vêem como um prêmio a possibilidade de burlar o fisco.
Se houvesse uma pesquisa de opinião para saber se o contribuinte brasileiro concorda com essa isenção, provavelmente muitos dariam sua aprovação. E sonhariam com a oportunidade de desfrutar o privilégio.
A posição dos futebolistas é mais incômoda, porque realça um dos aspectos do subdesenvolvimento brasileiro. Muitos ainda não acreditam que o respeito às leis é ingrediente primário na formação de um país.
Ao defender o privilégio ilegal, Romário e seus companheiros não estão reinvindicando oferendas para semideuses, mas apenas lembrando que são simples mortais.

Ressuscitar a rivalidade Rio/São Paulo é um mais um desserviço dos dirigentes da CBF.
A disputa entre as duas cidades andava esquecida, mas bastou a centelha dos cartolas do futebol para excitar os espíritos mais retrógados.
Antes dos cartolas, houve provocações na imprensa carioca, mas a participação do jornalismo para a contenda foi tão insignificante quanto quem contribuiu para ela.
A rixa vem do tempo em que a afirmação política dos paulistas se dava pela contraposição ao poder centralizado no Rio. Partindo da esfera política, as divergências ganharam contornos culturais.
A longa crise nacional e suas consequências deixaram a rivalidade em segundo plano, diante de tantos problemas comuns vividos pelas duas cidades.
A festa do futebol tinha tudo para ser um elemento positivo numa solidariedade que vem se firmando pelo enfrentamento dos fatos negativos. Mas a CBF é incompetente até para organizar festas.

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