São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Reciclagem da música corrompe a história

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Defender Roberto Carlos dos oportunistas seria um paradoxo, uma aporia para nunca ser resolvida. Roberto foi um oportunista (no bom sentido), teve senso de oportunidade nos anos 60 quando lançou sua imagem jovem. Acertou ao trocar a rebeldia pelo romantismo. Percebeu que seu público envelhecia com ele.
O clipe "Se Você Pensa" vai fazer parte da teratologia da cultura pop. É uma excrescência que diverte e, ao mesmo tempo, corrompe a história.
As imagens são as da época, mas entrecortadas, transformadas para o gosto atual. A moda das duas épocas é quase a mesma e não deixa de provocar riso ver Roberto com batom e olho pintado.
Mas o ritmo é alterado, como se o "videomaker" tomasse as velhas personagens como se fossem fantoches em seu computador e as fizesse pular conforme a música do tempo.
Athur Fontes foi chamado pela Sony para fazer a produção visual de Roberto Carlos a pedido do Rei. O músico se sentiu orfão com a morte do diretor Augusto César Vanucci, seu "consultor visual" ao longo de duas décadas.
Mas a deturpação maior é a música. Não dá para entender como Roberto, tão ciente de sua imagem, permitiu que sua composição fosse reciclada como lixo e convertida num lixo ainda maior.
O problema desses projetos para "teens" está na falta de rigor. É superficial plasmar a voz primeva de Roberto com uma batida dance. Não tem nada a ver, não dignifica o bom rock do compositor.
Nesse projeto subjaz um preconceito em relação ao jovem. Ele não é tão bobo e tão ingênuo como pensam. Ele não aceita gato por lebre. Teria sido mais honesto juntar as imagens alegres originais à faixa original.
Se a Sony e a MTV quiserem modernizar Roberto Carlos é melhor pedir que ele componha rap ou dance music.
(LAG)

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