São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Ataque pode se repetir 'em qualquer lugar'

MARCO CHIARETTI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O ministro de Turismo e Meio Ambiente de Israel, Uzi Baram, chegou ontem de manhã a Buenos Aires, como enviado especial de seu governo.
Baram visitou o local do atentado, prestou solidariedade aos parentes das vítimas e se encontrou com o governo argentino.
O ministro israelense deu uma entrevista exclusiva à Folha ao final de uma coletiva na sede provisória da Amia, a poucas quadras do local da explosão.
Na coletiva, ele disse que o Mossad (serviço secreto de Israel) poderia "justiçar" os autores do atentado onde os encontrasse.

Folha - O sr. acha que um novo atentado pode acontecer em outras cidades latino-americanas –no Brasil, em particular.?
Uzi Baram - Teoricamente, sim. Pode ser que os mesmos assassinos queiram criar medo nas comunidades judaicas. É impossível saber, mas é necessário partir da idéia de que pode acontecer.
É necessário lembrar também que nem tudo o que esses grupos terroristas programam tem êxito. Quantos carros-bombas em Jerusalém não foram desativados? Isso é devido à vigilância dos serviços de inteligência, da polícia e dos cidadãos comuns. Esses grupos prefeririam atacar Tel Aviv a Buenos Aires, mas sabem da nossa vigilância. Eles sabem que um ataque a uma comunidade judaica é como se fosse um ataque a nós mesmos.
Folha - Há base na afirmação de que existem bases do Hizbollah no sul do Brasil? Israel trabalha com esta informação?
Baram - Não sou do Mossad. É provável que o sr. saiba mais deste assunto do que eu.
Folha - Seu governo pediu ao governo brasileiro que aumente a segurança em torno dos centros da comunidade judaica?
Baram - Acho que Israel não pediu. Pode ser. Mas eu acho que não é necessário. O governo brasileiro deve assumir suas próprias responsabilidades já nesta etapa.
Folha - O sr. não acha que o anti-semitismo pode crescer com atentados assim, e que isso seria uma estratégia desses grupos?
Baram - Estou certo de que, se perguntarmos aos portenhos, a maioria está mais solidária hoje com a comunidade judaica do que antes do atentado. Acho que chegaremos a uma situação na qual a expressão de uma idéia anti-semita será contra a lei. Na África do Sul, ser racista é ilegal. Há cada vez mais regimes mais antirracistas.

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