São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ilha de indexação

Enquanto todo o país se empenha num difícil esforço de estabilização, a administração do Estado de São Paulo parece ter resolvido se preocupar apenas com seus próprios cofres e decidiu voltar a indexar sua arrecadação.
Como se sabe, extirpar da economia brasileira o vício arraigado de corrigir preços automaticamente segundo algum índice de inflação passada é um imperativo crucial para que o país tenha qualquer chance de estabilização duradoura. Tanto é assim que a desindexação dos salários, aluguéis, contratos privados, tributos federais e das diversas esferas da economia constituiu parte essencial do plano em andamento. O sucesso do combate à inflação parece no entanto representar uma consideração menor para o Palácio dos Bandeirantes.
Como que sorrateiro, o fisco paulista voltou a reajustar diariamente a Ufesp (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo –equivalente à Ufir federal), desde o último dia 11, de acordo com os índices da Fipe. O governo afirma que há contribuintes inadimplentes que seriam beneficiados se sua dívida não fosse corrigida; poderiam até ganhar dinheiro aplicando o atrasado no mercado financeiro. É verdade.
Ocorre porém que o argumento vale para todas as esferas arrecadadoras do país. A administração federal, no entanto, congelou a Ufir, o governo municipal de São Paulo paralisou sua UFM, outros governos estaduais estão com suas unidades fiscais estáveis –como, de resto, os assalariados tiveram seus vencimentos desindexados. Se todos fizerem como o Bandeirantes, a indexação volta, trazendo mais inflação, e o plano fracassa.
Não se discute a necessidade de punir sonegadores ou inadimplentes de forma a mais rigorosa, mas não se pode fazê-lo à custa de condenar o país a uma instabilidade econômica perene. É preciso buscar outras formas de coibir os efeitos indesejados da desindexação.

Texto Anterior: Entre dois riscos
Próximo Texto: Bene ma non troppo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.