São Paulo, sábado, 23 de julho de 1994
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Bene ma non troppo

Passadas três semanas da introdução do real, a inflação parece estar, pelo menos até o momento, sob controle. As prévias dos índices de julho, que ficaram por volta dos 5%, resultam mais da aceleração dos preços verificada no final de junho do que propriamente de aumentos ocorridos pós-real.
De fato, há estimativas de que a inflação no período entre 1º e 31 de julho deverá ficar entre 1% e 2%. Mantendo-se nesse ritmo, ou próximo dele –e são praticamente unânimes hoje as opiniões dos especialistas nesse sentido–, as taxas relativas a agosto serão ainda mais baixas do que as deste mês.
Mas mesmo que a troca de padrão monetário tenha ocorrido sem maiores percalços e que o governo disponha de uma razoável margem de manobra, certas tensões tendem a se acumular no médio prazo.
Mesmo saindo de um patamar bastante adequado, a inflação deste e dos próximos meses resultará em atraso cambial e tarifário, com as previsíveis pressões do setor exportador e de empresas estatais.
Os dissídios coletivos de setembro previsivelmente trarão pressões adicionais. E se a redução dos juros alivia os cofres do governo, o aumento do funcionalismo –dependendo dos percentuais e das datas de incidência– pode voltar a pôr em risco o equilíbrio fiscal.
Nenhuma dessas pressões é, em princípio, incontornável, mas sem dúvida exigirão do governo capacidade de negociação e, principalmente, de resistência.
Se parece razoável supor que a inflação estará baixa nos próximos meses, os desafios futuros não podem ser menosprezados.

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