São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caso 'Escola Base' pode ser obra de imaginação

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

É só uma hipótese, avisa a psicóloga Marylin Tatton, 33, especialista em casos de abuso sexual. Segundo ela, as cenas de sexo narradas a seguir podem ser obra da imaginação de F., 4.
A contadora Lúcia Tanoue Chang, 32, conta que estava na cama com F., quando o menino subiu no seu ventre e, simulando um ato sexual, disparou: "Olha mãe como um homem faz com uma mulher."
Intrigada, Lúcia quis saber onde e com quem o filho aprendeu a "obscenidade". Aos poucos, o menino contou uma história, detalhadamente. Citou até uma outra criança, C., 4, que a confirmou.
Três dias depois, 29 de março, Lúcia e Cléa Parente, mãe da menina C., estavam no 6º Distrito Policial, no Cambuci, zona sul de São Paulo.
No dia seguinte, os jornais noticiavam "escândalo": a escola infantil Base, na Aclimação (zona sul), era acusada de agenciar crianças para filmes pornográficos.
Segundo o relato do menino F., os alunos da escola eram levados em uma perua Kombi para uma casa grande, com vários quartos e camas redondas.
Lá, frequentariam aulas de "educação especial": crianças ficariam nuas e seriam obrigadas a se beijar na boca e assistir cenas de sexo explícito entre adultos.
A histeria tomou conta dos pais dos 72 alunos da Base. A escola foi depredada e saqueada.
O delegado Edélcio Lemos, convicto da veracidade das denúncias, indiciou os quatro sócios da escola.
Sem provas contra os acusados, Lemos acabou afastado do caso.
Há um mês, o inquérito policial com 2.000 folhas foi encerrado, sem qualquer fita de vídeo, fotografia ou laudo como prova.
Os acusados, que se dizem traumatizados, foram inocentados e agora processam os delatores.
A mãe de F., Lúcia, ainda não se convenceu que o menino inventou a história. "Tenho certeza que meu filho sofreu abuso sexual."
Lúcia se baseia em um laudo de Walquiria Fonseca Duarte, do Instituto de Psicologia da USP, que apontou indícios de abuso sexual em F.
Marylin Tatton –que trabalha na Delegacia de Defesa da Mulher– nega.
Ela analisou as 72 crianças da escola Base, quatro vezes cada uma, e afirma que nenhuma delas apresentou comportamento que indicasse a violência.
Para ela, é prematuro determinar se as denúncias contra a escola Base são fantasiosas ou não. Segundo a psicóloga, crianças reprimidas sexualmente podem criar fantasias, mas 70% dos casos de abuso são verdadeiros.

Texto Anterior: Implantes na psique
Próximo Texto: Dois tipos de genes que causam câncer
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.