São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Dois tipos de genes que causam câncer

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois tipos principais de gene participam dos processos que causam os cânceres hereditários: o oncogene e o gene supressor.
Embora descobertos mais ou menos ao mesmo tempo, sua aceitação pela comunidade científica foi muito diferente.
Os oncogenes há uns 20 anos merecem a atenção dos pesquisadores, ao passo que os supressores só nos últimos cinco anos se tornaram objeto de investigação.
Como para compensar o tempo perdido são eles hoje pesquisados com verdadeiro furor, crescendo avassaladoramente o número de artigos que relatam experiências a seu respeito.
Resultado dessa diferença de tempo, existem hoje cem oncogenes conhecidos, e apenas uns dez supressores. Mas o interesse por estes vem crescendo rapidamente.
O oncogene normalmente regula o crescimento e o desenvolvimento das células, mas quando sofre alteração pode mudar inteiramente o comportamento da célula, imitando o que se passa na cancerização.
O gene supressor geralmente concorre para conter o crescimento celular, mas sua mutação ou inativação pode também originar formação tumoral.
Ele tem sido encontrado em vários cânceres humanos, sendo um dos mais conhecidos e estudados o o gene p53, responsável por cerca de 50 por cento dos cânceres humanos.
Tanto a proteína fabricada pelos oncogenes quanto a dos supressores acham-se espalhadas por toda a célula, desde a membrana até o núcleo.
Pouco se sabe sobre o que as proteínas codificadas pelos supressores fazem e como contribuem para o estabelecimento do câncer.
Tem havido entretanto progressos nessa área, os quais talvez tragam apuro no diagnóstico e até no tratamento.
Exemplo disso é uma experiência feita com camundongos especiais, nos quais se inoculam células do câncer do cólon num dos lados do corpo, onde se desenvolve grande tumor, enquanto permanece normal o lado oposto injetado com cromossomo portador de gene supressor.
A história desse tipo de gene remonta ao fim da década de 60, com experiências de Henry Harris e Alfred Knudson, independentemente, mas seus resultados permaneceram desprezados na época, e de fato apresentavam falhas cuja correção demorou muito tempo.
Além disso, ao contrário dos oncogenes, os supressores não são facilmente detectáveis no laboratório, por não estimularem o crescimento das células em cultura.
Tudo isso e outros motivos retardaram o reconhecimento dos supressores, o que só ocorreu na década de 80 com o desenvolvimento de uma nova técnica, a clonagem posicional.
O primeiro supressor reconhecido foi o gene do retinoblastoma, tumor da retina de criança, hereditário. Deve-se essa descoberta a três grupos de pesquisadores.
A proteína codificada pelo gene p53, sugerem as experiências, serve para proteger o genoma (conjunto dos genes do indivíduo) contra agentes nocivos.
Ela parece ter a capacidade de "sentir" quando ocorre uma lesão e logo deter o crescimento da célula até o reparo do dano.
Se este é irreparável, a proteína promove a morte chamada "programada" (apoptose) da célula, para livrar-se dela completamente.
Mas se acontece mutação do gene a célula continua a dividir-se, permitindo que aumente a lesão do DNA (ácido desoxirribonucléico, material fundamental do gene).

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