São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Comitê do PC defende capital

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Criar um comitê do Partido Comunista entre os funcionários para "garantir o bem da empresa". Blasfêmia no passado, esse é o mote que orienta o trabalho de Tong Zhanduo, vice-presidente da Shiseido Liyuan Cosméticos.
"As células devem trabalhar com o investidor estrangeiro para o benefício da economia", diz ele.
Num passado não muito distante, as células do PC eram o centro das "unidades de trabalho" em torno das quais girava a economia chinesa. A carteirinha dessas "unidades" era mais importante do que documentos de identidade.
Membro do PC deste 1982, Tong dirige a parte chinesa numa iniciativa que juntou dois gigantes da área de cosmésticos: a Liyuan da China e a Shiseido do Japão.
A joint venture, criada há três anos, foi o primeiro investimento japonês na região de Pequim.
A empresa nasceu com um investimento de 50 milhões de yuans (cerca de US$ 6,2 milhões) e começou a operar em janeiro. "Ainda não chegamos nem a 50% da nossa capacidade de produção e já temos proposta para exportar para a Malásia", conta Tong Zhanduo.
Os operários chineses trabalham 44 horas semanais, como estabelece o governo, e ganham em média 800 yuans mensais (cerca de US$ 100 dólares) –praticamente o dobro de um salário médio na China, mas uma mão-de-obra barata para o investidor japonês.
Na sala de visitas da empresa, entre sofisticados cartazes de propaganda da linha de cosméticos Aupres, Tong Zhanduo conta que seus produtos visam uma faixa de consumidor mais sofisticada, os "novos ricos" chineses. "Basicamente, quem ganha mais de 1.000 yuans por mês", explica ele.
A Shiseido Liyuan ainda não tem um comitê do PC, mas Zhanduo defende a idéia. "As estruturas partidárias ensinam a política do governo e ajudam a educar os trabalhadores."
No começo das reformas, alguns investidores descobriram que em suas joint ventures havia grupos organizados de comunistas e ficaram zangados, conta Tong.
"Mas eles logo entenderam que não há uma política de oposição ao investidor estrangeiro."
(JS)

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