São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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Kennedy enfrenta o passado em campanha

USA Today
De Arlington

JOHN LARRABEE

Os comerciais de 60 segundos para TV são prova suficiente de que o senador Edward Kennedy, 62, enfrenta a mais difícil campanha eleitoral de sua vida.
Kennedy iniciou uma blitz de mídia de US$ 600 mil, que justapõe realizações legislativas a imagens ao lado de sua jovem mulher. Ele não visa seus dois potenciais oponentes do Partido Republicano, ambos praticamente desconhecidos no Estado de Massachusetts.
Num ano sem desafios nas primárias, Kennedy compete contra outro adversário: ele mesmo.
O senador admitiu suas dificuldades quando deu novas justificativas para o seu papel no acidente acontecido em Chappaquiddick no dia 18 de julho de 1969 –há 25 anos–, em que Mary Jo Kopechne, passageira do Oldmosbile conduzido por Kennedy, morreu.
Dúvidas sobre o papel de Kennedy e alegações de que sua responsabilidade pelo acidente foi encoberta continuam a persegui-lo.
Historiadores da política entendem que o caso acabou com as chances que Kennedy tinha de seguir os passos do irmão John e chegar à Casa Branca.
Mas essa não é sua única história desagradável. Ele sempre foi conhecido como playboy ao longo de sua vida pública.
Sua popularidade chegou ao ponto mais baixo três anos atrás, quando seu sobrinho William Kennedy Smith foi julgado sob acusação de estupro num tribunal de Palm Beach, Flórida. Smith foi absolvido, mas Kennedy sofreu ataques da mídia.
"Chappaquiddick vai influir, mas apenas no contexto do histórico geral de Kennedy", diz Ted Temple, do Comitê Conservador de Ação Política da Costa Leste, um velho adversário de Kennedy.
Agora, após 32 anos no Senado, Kennedy encara um eleitorado bastante mudado; muitos eleitores ignoram a lenda política criada por seus irmãos John e Robert.
Kennedy fala sobre emprego, saúde e reforma dos serviços sociais; os repórteres o questionam sobre bebida e Chappaquiddick.
Desde os acontecimentos de Palm Beach, os republicanos prometem sério desafio eleitoral.
Mas as ameaças perderam parte de sua credibilidade. William Weld, o governador e mais popular republicano de Massachusetts, decidiu se manter alheio à disputa.
Mitt Romney, filho de George Romney, ex-governador do Michigan, e John Lakian disputam a indicação do Partido Republicano.
Kennedy se esforça para mudar sua imagem. Ele se redimiu parcialmente em 1991, com um discurso em Harvard no qual se desculpou por "deficiências" e comprometeu-se a "continuar combatendo pelas melhores causas".
Até agora todas as pesquisas dão vantagem a Kennedy, mas os especialistas continuam preocupados com sua vulnerabilidade.
Jon Keller, comentarista político da WLVI-TV de Boston, diz que "liberais antiquados como Kennedy estão fora de moda, até mesmo em Massachusetts".
O aniversário de Chappaquiddick não passou despercebido.
Howie Carr, da rádio WHDH de Boston e humorista político no jornal "Boston Herald", transmitiu programa ao vivo de Chappaquiddick em 19 de julho.
Mas muitos –como Mark Jurkowitz, do "Boston Phoenix"– acreditam que o estardalhaço não fará efeito. "Muitos eleitores não lembram mais de Chappaquiddick –da mesma forma que não lembram de John e Robert Kennedy".

Tradução de Paulo Migliacci

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