São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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A novela Bisol

O PT está se transformando em protagonista de uma novela de má qualidade, que gira em torno do afastamento ou não do senador José Paulo Bisol (PSB-RS), candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva.
Tudo o que havia para se comentar a respeito das irregularidades de que Bisol é acusado já foi dito. E o saldo é, obviamente, negativo para o PT. De nada adianta o partido e Bisol afirmarem que tudo não passa de uma conspiração orquestrada pela mídia. São cada vez mais abertas e frequentes as críticas de elementos de destaque do próprio PT e das agremiações a ele coligadas ao comportamento de Bisol.
No fundo, o caso é simples. Do homem público, exige-se o que se pedia à mulher de César. Não bastava ser honesta; era preciso também parecer honesta. O caso Bisol também fere a imagem de partido absolutamente imaculado que o PT construíra e era aceita até mesmo pelos seus adversários.
Mas o hamletiano drama em que se enreda o PT serve também para pôr a nu a incapacidade de o partido tomar decisões rápidas quando as circunstâncias o exigem.
Se o PT se transforma em uma espécie de assembléia permanente, que quase todos os dias se reúne e não decide, quando a agenda é apenas Bisol, fica no mínimo inquietante imaginar o que será o governo do PT quando a agenda incluir, por exemplo, a reforma do Estado, da Previdência, do pacto federativo, o salário mínimo, as carências sociais –enfim, a enorme lista de problemas nacionais que aguardam deliberação.
Ao contrário dessa lista, o caso Bisol é de certa forma fácil de resolver, até porque não cabe mais do que uma de duas hipóteses. Se o PT tem segurança de que o senador é inocente, que decida de uma vez mantê-lo, pare de se reunir todos os dias para discutir o assunto e corra os riscos decorrentes dessa deliberação. Ou, então, que o afaste, seja por ter dúvidas sobre o seu comportamento, seja por mero cálculo eleitoral.
Afinal, até nas melhores novelas há um limite para o número de capítulos.

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