São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 1994
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O câncer da próstata

MIGUEL SROUGI

Muito se tem falado sobre a próstata, pequena glândula localizada na saída da bexiga que comumente sofre um processo de crescimento benigno, responsável por distúrbios na eliminação da urina.
A falácia de que a próstata se relaciona com virilidade açoita a mente de muitos, mas, sob o ponto de vista médico, outros são os motivos de desconforto com as doenças locais.
O câncer da próstata tornou-se, a partir de 1990, o tumor maligno mais comum do homem, estimando-se que, de cada dez deles, um irá desenvolver a doença!
Se projeções realizadas pela American Cancer Society e pela Universidade de Stanford forem válidas para o Brasil, onde existem atualmente 10 milhões de homens com mais de 50 anos, cerca de 300 mil patrícios são portadores, sem saber, de câncer da próstata, outros 700 mil serão acometidos pela doença nos próximos dez anos e, em 1994, 27 mil brasileiros morrerão por este motivo.
Como o câncer da próstata não tem causa conhecida e como sua cura somente pode ser assegurada nas fases iniciais da doença, a forma mais racional para se abordar o problema é através do diagnóstico precoce.
Os médicos brasileiros têm realizado sua parte, através de campanhas de conscientização pública e equipando-se tecnicamente para tratar tais casos. Dois grandes obstáculos, contudo, ameaçam comprometer os resultados destes esforços: dificuldades de ordem econômica e preconceito dos homens.
Números explosivos afloram quando tentamos projetar os custos de um programa de detecção do câncer da próstata. Se todos os brasileiros com mais de 50 anos fossem incluídos neste programa, seriam dispendidos anualmente US$ 2,2 bilhões para o diagnóstico e US$ 24 bilhões para o tratamento!
Obviamente, seria injusto e irracional exigir que o governo destinasse US$ 4,6 bilhões somente para tratar câncer de próstata, num país cujos gastos anuais com a saúde situam-se entre US$ 7 e US$ 8 bilhões.
Como alternativa, cada cidadão poderia patrocinar sua própria avaliação e tratamento, mas isto marginalizaria milhões de brasileiros. Restaria a saída de se utilizar a estrutura de saúde (?) existente, onde homens com mais de 50 anos seriam avaliados através do toque digital da próstata. Surge o segundo problema: o preconceito do brasileiro quanto a este exame.
Independente dos fatores que geram esta reação, é interessante observar a indignação que o toque desperta. A bem da verdade, este exame é realizado de forma indolor, em poucos segundos, e constitui a melhor forma de se detectar um tumor maligno nas suas fases iniciais.

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