São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palmeira já balança

JANIO DE FREITAS

Embora tratadas discretamente pelos meios de comunicação –quando expostas– as denúncias de envolvimento do senador Guilherme Palmeira com a empreiteira Sérvia e, na eleição passada, com o esquema financeiro de PC Farias já motivam, entre peessedebistas, pefelistas e palacianos, o exame de nomes para sua eventual substituição como vice de Fernando Henrique. Os dois mais cogitados, no momento, são Alysson Paulinelli e José Múcio Monteiro.
A hipótese da substituição decorre de que os elementos das denúncias vão crescendo sem que o senador Palmeira lhes contraponha contestação tranquilizadora. O que já está divulgado é suficiente para prenunciar-se como fator de desgaste para Fernando Henrique, quando outros candidatos comecem a explorar o assunto. Mas o problema pode ganhar fisionomia ainda mais embaraçosa, seja com divulgação mais contundente, com novos indícios ou mesmo com um inquérito.
O senador Palmeira foi o responsável por três emendas orçamentárias que beneficiaram obras da Sérvia. A ex-secretária da empreiteira, Ana Lúcia Duarte, relata um amplo esquema de corrupção parlamentar e indica o número de uma conta bancária em Alagoas como destinatária de uma parte das propinas. A conta é identificada como de Carlis Abraão Gomes de Moura, assessor e amigo íntimo do senador alagoano. A Polícia Federal, por sua vez, constatou a existência de uma conta-fantasma, na qual a Sérvia movimentou mais de US$ 7 milhões. E o dono da empresa, Thales Sarmento, confirmou que a conta foi usada para transferir dinheiro a políticos.
Há muitas razões, portanto, para a presunção de que o assunto, além do risco de agravar-se, será preciosa matéria-prima para outros candidatos. Daí, aliás, a cautela que Fernando Henrique, peessedebistas e pefelistas têm mantido em relação ao problema petista do senador Bisol, deixando que só os meios de comunicação se incumbissem de desenvolver o caso e seus desdobramentos políticos.
Entre os dois nomes por ora mais cogitados para novo vice de Fernando Henrique, Alysson Paulinelli, foi ministro da Agricultura no governo Geisel, com desempenho que nem de longe correspondeu à propaganda de sua nomeação. Mineiro, por esta condição é considerado conveniente reforço para a campanha em um Estado de grande peso eleitoral. PSDB e PFL desejaram que o vice da chapa fosse de Minas, só optando pelo nordestino Palmeira depois de fracassada a tentativa de atrair o governador Hélio Garcia.
O deputado José Múcio Monteiro é o mais peessedebistas dos pefelistas. Há oito meses pretendeu transferir-se para o PSDB, mas sua admissão foi vetada por parte dos peessedebistas pernambucanos. No PFL de Pernambuco, tem posição muito menos conservadora e neoliberal do que Gustavo Krause, Roberto Magalhães e Marco Maciel.
A consumar-se a substituição, Fernando Henrique estará prevenindo desgastes maiores, mas não deixará de ter algum. Já por ser mais um efeito negativo de sua aliança com o PFL, como, igualando sua situação à de Lula, pela perda dos benefícios que lhe trouxe o caso Bisol.

Texto Anterior: REGRAS DO JOGO ELEITORAL
Próximo Texto: FHC faz aula de dicção e deverá responder a cartas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.