São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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O programa que mudou o Brasil - 5

LUÍS NASSIF

Em fins de 1989, o BNDES estava pronto para interferir diretamente na política econômica do país e implantar os princípios da "integração competitiva", desenvolvidos por seus técnicos.
O empresário Márcio Fortes assumira a presidência do banco, comprara as idéias, a promovera uma ampla restruturação na organização.
De seu lado, o vice-presidente Bruno Nardini, industrial paulista, também aderira às teses do grupo e passara a promover reuniões com outros setores da administração pública, visando estabelecer uma política ordenada em direção à abertura.
Participavam os técnicos do BNDES, Heloísa Camargo (do Conselho de Política Aduaneira), Ernesto Carrara (da Secretaria de Desenvolvimento Industrial), Namir Salek (todo-poderoso diretor da Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil), Mauro Arruda (pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e Ozires Silva, pela Fiesp.
E também a nata do pensamento industrialista da Fiesp, com Paulo Cunha, Paulo Villares, Eugênio Staub, Cláudio Bardella entre outros empresários que, mais tarde, criariam o Iedi (Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial).
Teoria e prática
A equipe econômica de Fernando Collor chegou embuída das idéias de abertura da economia. Mas, num primeiro momento, acabou pendendo para as teses da PUC-Rio, radicalmente liberais, que rezavam que governo não deveria se imiscuir em questões de política industrial.
Gustavo Franco e Winston Fristch, ambos da PUC, poderiam ter comandado o processo de abertura, mas acabaram batendo de frente com o mundo real. Não conseguiram atender às solicitações de Ibrahim Eris e Antonio Kandir, da equipe de Zélia, para que avançassem além do conceitual e propusessem medidas concretas, com exposição de motivos, minutas de portarias etc.
Coube à tecnocracia esclarecida resolver a questão, com Heloísa Camargo detalhando a política inicial de abertura das importações.
Dias perigosos
Os primeiros dias do governo Collor foram decididamente desfavoráveis aos "integracionistas". Luis Octavio da Motta Veiga assumiu a presidência da Petrobrás e demitiu toda a equipe que participara do programa de tecnologia em águas profundas.
A equipe do BNDES não só foi derrotada em sua pretensão de indicar o colega Nildemar Secches para a presidência, como o presidente indicado, economista da PUC Eduardo Modiano, acabaria encostando os técnicos e praticamente proibido o banco de pensar nos dois anos seguintes.
Júlio Mourão, o principal teórico da "integração", e o próprio Secches foram convidados a assumir a Secretaria de Planejamento do Ministério da Economia, mas recusaram.
Coube ao economista João Maia (que depois se desgastaria articulando benefícios para a Sade Engenharia) trazer seu ex-colega de "partidão" Luiz Paulo Velloso Lucas, membro de relevo dos "integracionistas" como seu vice no Departamento de Abastecimento e Preços.
Logo depois, quando o economista Marcelo Abreu, também da PUC, pediu demissão do cargo de Secretário Nacional de Economia, Velloso Lucas foi indicado para seu lugar.
Imediatamente chamou para vice seu ex-colega de faculdade, Antônio Maciel –que participara do grupo da Petrobrás que ajudou o BNDES a pensar a nova política e havia sido o terceiro brasileiro credenciado pela Sociedade Americana de Controle de Qualidade.
Depois de seis anos, as idéias do BNDES conseguiam superar a pesada barreira imposta pela academia e o grupo "integracionista" estava pronto para mudar o Brasil.

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