São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 1994
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O debate que não houve

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO – O primeiro debate dos presidenciáveis não ocorreu. Não houve debate. Houve sim uma sabatina que líderes empresariais aplicaram aos candidatos, para extrair dos mesmos o grau de concordância que devotam à cartilha neoliberal.
Mesmo sem sal, com as ausências de Lula e Quércia, a sabatina no Rio foi um capítulo bem exemplar da busca por uma nova versão de representatividade na democracia.
Em crise no mundo todo, a representatividade cada vez mais está deixando de ser uma relação entre eleitor e eleitos, evoluindo para a relação entre grupos, setores da sociedade com seus representantes nos poderes.
Assim, na Rede Manchete, ontem, o setor empresarial questionou os candidatos. Amanhã, eles estarão, em Brasília, se submetendo à CNBB.
Na nova sabatina, as perguntas deverão ser menos centradas no caráter econômico do Estado, para se concentrar nos projetos sociais e na discussão da ética na política.
O limite óbvio desse modelo é a impossibilidade de se submeter os candidatos ao questionamento direto de todos os segmentos sociais.
As respostas dadas aos empresários ou à Igreja Católica têm que servir para esclarecer ou não qualquer eleitor, sindicatos de trabalhadores, ou às várias confissões religiosas.
Nas duas sabatinas, os organizadores tiveram a preocupação de evitar perguntas entre os presidenciáveis. Não se quis o enfrentamento dos candidatos, abaixando a temperatura da disputa.
Temperatura que a legislação quer manter no horário eleitoral, que estréia em agosto, quando os recursos dos candidatos ficarão limitados quase que ao próprio discurso. A pimenta do tempero deve vir dos vários dossiês que apresentarão contra os adversários.
A via morna, iniciada no encontro da Rede Manchete, tem a aura de um conclave entre cavalheiros. Um item a mais de falso primeiro-mundismo no país que tem moeda mais valorizada que o dólar.

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