São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Plano funciona dentro das previsões

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu primeiro mês, o Plano Real funciona bem e, o que é mais importante, conforme o previsto e anunciado pelo equipe econômica. Isso confere credibilidade à política econômica.
Os principais pontos positivos na administração econômica do plano são os seguintes:
Inflação zero - Descontadas as distorções estatísticas, a inflação andou em julho perto de zero. Preços que haviam subido no final da URV não se sustentaram. Caíram porque a procura por mercadorias foi muito restrita.
A expectativa generalizada é de nova queda de preços em agosto.
A cesta básica em São Paulo, que começou julho custando R$ 106,95, recuou para R$ 101,93 na última sexta-feira, com queda de quase 5%. E isso apesar da geada que elevou o preço dos hortifrutis.
Ainda está mais cara do que em maio, mas a tendência de queda é o fato econômico mais importante.
Juros - Em 4 de julho, primeiro dia útil do real, o Banco Central (BC) tocou uma taxa efetiva de juros de 8,31% ao mês, altíssima, acima das expectativas do mercado financeiro.
Ontem, o Banco Central indicou que agosto começa com juros mensais de 4,36%, operando uma redução maior do que a esperada pelo mercado.
Cumpriu-se assim a política segundo a qual os juros começariam altos - para conter o consumo e forçar uma redução de preços - e depois começariam a cair, acompanhando a queda dos preços.
O BC informa que os juros cairão ainda mais ao longo de agosto. O mercado financeiro acredita nisso: a expectativa é de juros de 3,6% para agosto.
Moeda em circulação - Um dos principais pontos do plano Real é controlar a quantidade de dinheiro em circulação, seguindo a tese de que qualquer emissão de moeda é inflacionária.
Todos os fatores que levam ao crescimento da quantidade de moeda na praça estiveram controlados. O Tesouro (o caixa do governo federal) está gastando menos do que arrecada.
No mercado de dólares, o BC deixou correr livre e assim não precisou comprar um centavo de moeda estrangeira. Em consequência, não precisou emitir reais.
E o fenômeno da monetização - quando as pessoas usam mais dinheiro no bolso e deixam em depósito à vista - ocorreu dentro do previsto.
E indicou que as pessoas estão acreditando que a inflação é zero. Quando as pessoas deixam de aplicar dinheiro e deixam R$ 4,2 bilhões em conta corrente, é sinal de que não se preocupam com a eventual desvalorização desse dinheiro.
Redução da dívida - A monetização diminui a dívida do governo. As aplicações financeiras estão basicamente lasteadas em títulos do governo federal.
Quando as pessoas preferem ficar com dinheiro vivo, os fundos devolvem os títulos ao BC, que os recompra. Trocam-se títulos, pelos quais o BC pagava juros, por dinheiro, sobre o qual o BC não paga nada.
Na terceira semana do real, o BC já havia recomprado R$ 5 bilhões em papéis do Tesouro, reduzindo a dívida do governo em títulos para R$ 54,9 bilhões.
Taxa de câmbio - O BC deixou o mercado funcionar livre e o mercado comprou e vendeu dólar abaixo da cotação de R$ 1,00. Segundo Gustavo Franco, diretor de Assuntos Internacionais do BC, isso prova que a taxa está correta.
Flexibilidade - Os instrumentos de gerência do plano permitem corrigir as rotas. Por exemplo: mantidas as atuais taxas de juros e as regras de restrição de crédito, o plano é recessivo.
Mas como o BC já vem reduzindo os juros e promovendo mudanças no sistema financeiro – de modo a favorecer aplicações de longo prazo - não há expectativa de recessão no mercado.
Ao contrário, o preço das ações vem subindo, indicando expectativa de retomada de negócios.
Na questão dos preços, a mesma coisa. Sinais de alta podem ser rapidamente combatidos com importações. O governo pode reduzir imposto de importação quando quiser e a importação é livre.

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