São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Saúde brasileira é cara e sucateada

DA REDAÇÃO

Mais de 40% dos equipamentos hospitalares no país estão sucateados ou são mal utilizados, de acordo com o Ministério da Saúde, o que representa um desperdício de US$ 3 bilhões, ou um quarto do orçamento anual do ministério.
Essa é uma das consequências de uma das principais distorções na infra-estrutura do sistema de saúde brasileiro: a ênfase em serviços caros, feitos por especialistas, em prejuízo do atendimento médico primário.
O Brasil, como a maior parte dos países do Terceiro Mundo, tem contas de atendimentos hospitalares muito altas, o que mostra uma preferência por remediar a prevenir.
Até a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde), o governo federal passava verbas fixas aos hospitais da rede do extinto Inamps –e os hospitais, cujo funcionamento é muito custoso, usavam o dinheiro como queriam. (leia texto à pág. 4)
Uma das consequências disso é outra aberração na saúde brasileira: em 1991, os hospitais psiquiátricos cadastrados à rede federal consumiam 7,5% das despesas com internações realizadas pelo SUS e representavam o equivalente a 18% dos leitos.
Esses números vão de encontro com a tendência mundial, segundo a qual o paciente deve ficar o menor tempo possível internado, e os esforços devem ser para reintegrá-lo na sociedade.
No Brasil, em 1991, mais de 30 mil pacientes estavam esquecidos dentro dos hospitais psiquiátricos, completamente desvinculados da sociedade.
O Ministério da Saúde está tentando reverter esse quadro e começou a descadastrar do SUS hospitais psiquiátricos que não seguem normas mínimas estabelecidas.
Já descadastrou 11: 3 em Goiás, 3 no Rio de Janeiro, 1 no Maranhão, 1 no Pará, 1 em Tocantins e 2 em São Paulo –entre eles o da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Para reverter esse quadro, é necessário investir em atendimento primário. Mas não basta colocar os médicos em atividade no país para atuar como clínicos gerais, pois o desperdício continuaria.
O motivo é simples: ele está habituado a pedir mais exames e testes de laboratório como auxiliares no trabalho de diagnóstico.
Não é só de clínicos gerais que o Brasil precisa. O país tem muito poucos enfermeiros, numa proporção de apenas um para cada quatro médicos.
Além disso, o conjunto dos profissionais da saúde –tanto médicos como enfermeiros– estão mal distribuídos pelo país.

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