São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Católicos divergem sobre prática de aborto

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Menor, e a socióloga Maria José Rosado Nunes, coordenadora do grupo Católicas pelo Direito de Decidir, polarizaram as discussões no debate "O aborto sob o ponto de vista ético" realizado pela Folha na última quarta-feira.
Lancellotti defendeu que a ética impede a prática do aborto. Maria José afirmou que não é ético impedir que as mulheres decidam quando querem ter seus filhos.
Também participaram do debate o psiquiatra Marcos Ferraz, professor titular da Escola Paulista de Medicina, e o rabino Adrian Gottfried, diretor educacional da Congregação Israelita Paulista.
Ao iniciar o debate, o padre Lancellotti lançou um argumento para contrapor a afirmação de que a discriminalização do aborto é necessária em um período de crise econômica e falta de acesso a métodos contraceptivos: "O princípio ético não deve se adaptar à realidade temporal."
O psiquiatra Marcos Ferraz defendeu a revisão da lei que criminaliza a mulher que faz aborto.
"A sexualidade é uma fonte de prazer, não apenas de procriação. Mas os métodos anticoncepcionais não são perfeitos e a mulher não pode pagar por um erro tecnológico", disse.
Ferraz chamou a lei brasileira de hipócrita: "Ela diz que o feto tem direito à vida, mas se é fruto de aborto, perde o direito".
A socióloga Maria José deu ênfase à visão de que o aborto é uma questão de igualdade social.
"As mulheres pobres são mais penalizadas pela proibição do aborto. Elas não podem recorrer às chamadas clínicas clandestinas", disse. (Luis Henrique Amaral)

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