São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Chuva chilena esvazia o clássico de hoje

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O clássico de hoje bem que poderia ter uma atração especial, já que o torneio em si não vale nada. Refiro-me à revanche tricolor da goleada que o Corinthians lhe impingiu há uma semana. Naquela ocasião, o São Paulo jogou com seu time reserva, pois os titulares poupavam-se para enfrentar o Palmeiras pela Libertadores.
Esta tarde, se tudo tivesse ocorrido de acordo com as previsões, entraria em campo com seu time titular. Falha nas previsões meteorológicas, pois uma chuvarada lá em Santiago adiou a partida contra o Unión Espa¤ola, pela Libertadores, para sexta, e a revanche foi pro brejo.
Haveria ainda a perspectiva de a torcida se rencontrar com Viola. Não só a corintiana, mas a tricolor, a palestrina, enfim, todos os amantes do futebol, posto que Viola hoje é um ídolo ecumênico.
Um pouco pela simpatia natural que irradia, muito pelo futebol composto de altas doses de empenho e talento. Diria mesmo que é o único jogador do futebol paulista, na atualidade, capaz de desequilibrar sozinho uma partida, pois tanto vai lá atrás armar as jogadas, como é um capeta na área. Por fim, para ilustrar seus gols e aumentar o riso da galera, vai-se firmando como o mais criativo coreógrafo dos estádios.
Tanto isso é verdade que, quando da tardia celebração do tetra na cidade, Viola roubou a cena, até mesmo dos políticos que se empenharam em promover aquele arremedo de festa popular, na vã esperança de arrebanhar mais uns votinhos para seus candidatos nas próximas eleições. Essa gente não aprende mesmo.
Seus clones futebolísticos -os inefáveis cartolas- também não. Prova disso é essa Copa Bandeirantes, que hoje conspurcará a tradição de um dos mais renhidos e antigos clássicos da nossa história.
*
Corinthians e São Paulo, porém, estão de olho comprido no Campeonato Brasileiro que vem aí. O São Paulo, sexta-feira, contra o Unión, provou que continua sendo um sério candidato ao título. Empatou apenas, é verdade, mas poderia ter disparado uma goleada logo no primeiro tempo, quando perdeu quatro chances incríveis de marcar e ainda meteu uma bola no travessão, Juninho cobrando falta.
Sua formação defensiva, com Válber como líbero, é muito interessante, mas lá na frente, na área, falta ainda um finalizador, aquele pezinho santo e infalível que empurra a bola para as redes. Isso falta.
E, pelo jeito, seguirá faltando, pois o tricolor só tem olhos para o seu meio-campo, pretendendo recheá-lo com Alemão e esse craque chileno do Unión, Sierra. Canhoto da melhor estirpe, foi na sexta-feira, como nas partidas contra o Cruzeiro, o grande diferencial. Tem o raro dom da antevisão das jogadas, marca dos grandes craques, dribla fácil, passa com precisão e busca o gol. Seu toque de primeira para colocar o pontinha em posição privilegiada no gol chileno é uma síntese de tudo isso.
Já o Corinthians está trazendo Branco para uma posição -a lateral esquerda- que tem sido o ponto frágil dessa equipe há anos. Claro que Branco já não é aquele lateral fogoso dos bons tempos. Mas tem uma técnica refinada, uma canhota devastadora e a malícia própria dos veteranos. O lance do gol da Copa, aquele que nos empurrou ao título, contra os holandeses, é o melhor exemplo. Fez duas faltas, atirou-se no chão e cavou a cobrança que nos livrou dos holandeses para sempre, amém.

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