São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Dois guardiães de Canudos
MARILENE FELINTO
Quando surge algum turista em Canudos, trabalham como guias, sem cobrar pelo trabalho, contentando-se com qualquer gorjeta recebida. A grande ocupação da vida dos dois é a história de Canudos. Respiram e se alimentam ainda hoje do mito de Antônio Conselheiro. São fundadores e membros do ACEPAC – Associação Centro de Estudos e Pesquisas Antônio Conselheiro –, organização semifictícia, sem sede, sem ajuda oficial. Mas Rainê e Adilson colecionam e organizam tudo o que se noticia sobre Canudos, pastas inteiras que guardam recortes de jornal e revista, listas de bibliografia, pilhas de fotos. Inteligentes e articulados, os dois guias sabem muito da história da guerra e do povoado hoje submerso pelas águas do açude Cocorobó. Têm opinião formada sobre o massacre dos canudenses e sobre Antônio Conselheiro, a quem tratam como um herói socialista. Rainê e Adilson são surpreendente boa companhia nas andanças pelas ruelas estreitas e pobres da nova Canudos. Orientam os minguados turistas pelos morros que serviram de cenário da guerra, pelas areais fofas e avermelhadas do raso da Catarina, pelas margens azuladas do açude Cocorobó. Não fosse a história de Canudos, as imagens quadradas da televisão, e uma ou outra banda de rock matuto que vem animar as noites paradas de Canudos, Adilson e Rainê talvez não suportassem a falta de perspectivas que isola jovens como eles nos confins desertos do país. (MF) Texto Anterior: Um país inteiro esquecido nos sertões Próximo Texto: DOIS SERTÕES Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |