São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Bani-Sadr critica atentados anti-semitas

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

Abollhasan Bani-Sadr se diz o presidente do Irã no exílio. Foi opositor do regime do xá Reza Pahlevi, aliando-se aos partidários do aiatolá Ruhollah Khomeini.
Quando a oposição tomou o poder, em 1979, tornou-se presidente, cargo que ocupou até 1981. Nesta data, teve de deixar o país por desencontros com Khomeini.
Fugiu para a França, onde vive. É odiado pelo governo iraniano, considerado por Bani-Sadr como "terrorista". A seguir, entrevista exclusiva de Bani-Sadr à Folha.

Folha - Qual a sua opinião sobre os grupos radicais?
Abollhasan Bani-Sadr - O Alcorão (livro sagrado do islã) é muito claro ao dizer que não podemos agir com violência.
A única possibilidade é o uso da força após uma agressão injusta. Quando não é esse o caso, não podemos considerar esses agressores como islâmicos. Não tenho dúvidas de que esses grupos, que têm um discurso religioso forte, estão na verdade agindo contra as normas estabelecidas no Alcorão.
Folha - Qual é o motivo do crescimento da importância desses grupos nos últimos anos?
Bani-Sadr - As potências ocidentais têm boa parte da culpa. Afinal, sustentam regimes que encorajam os extremistas. Quem deu os US$ 30 bilhões de dólares correspondentes à dívida externa iraniana? Foram os países ocidentais.
Folha - Qual é o interesse desses países?
Bani-Sadr - Econômicos. Por exemplo, para que o preço do petróleo continue baixo, é preciso um regime fraco. O caso Irã-contras é outro exemplo de interesses: os EUA se aproveitaram do Irã.
Folha - Qual seria a forma para combater os extremistas?
Bani-Sadr - Basta o Ocidente adotar outra política em relação a esses países. Além disso, Israel tem de abandonar o terrorismo, pois é preciso lembrar que esse país é campeão de atentados.
O Exército israelense pratica diariamente esse tipo de atos. Em suma, é preciso não apoiar financeiramente nem ideologicamente esses grupos e regimes.
Folha - Qual é a sua opinião sobre a nova onda de atentados anti-semitas?
Bani-Sadr - Minha opinião é a mesma: são atos não-muçulmanos.
Folha - O senhor acredita na paz entre árabes e judeus?
Bani-Sadr - Se Israel tentar uma paz injusta, se aproveitando da fraqueza árabe, ela durará. Caso contrário, pode dar certo.
Folha - O que acha do atual governo iraniano?
Bani-Sadr - Se baseia em quatro pontos: terrorismo, compra de armas, endividamento e corrupção.

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