São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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Islamismo apavora o mundo ocidental

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

O islamismo ocupa hoje no mundo um papel que já foi do comunismo. É o fantasma que encarna mais rápida e completamente a ameaça violenta à estabilidade.
Antes mesmo de qualquer evidência concreta ser encontrada e antes de qualquer reivindicação –verdadeira ou falsa– por parte de algum grupo, os atentados das duas últimas semanas na Argentina, Panamá e Londres foram atribuídos a grupos radicais islâmicos.
É claro que, com o recente acordo de paz entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina, o principal suspeito em qualquer ataque a judeus são os grupos radicais islâmicos que se opõem a qualquer acordo com Israel.
Mas o panorama no mundo islâmico teve que sofrer uma transformação para que isso acontecesse.
Com as duas guerras mundiais os países de tradição muçulmana do Oriente Médio e norte da África tiveram a oportunidade de se livrar do jugo dos turcos otomanos e das potências coloniais européias. Do final da Segunda Guerra até a década de 70 foram surgindo as oportunidades de independência.
Quem dominou a cena desse processo –no Egito, na Síria, no Líbano, no Iraque, na Argélia– foi o nacionalismo árabe.
Durante a Guerra Fria, a aproximação com a URSS foi inevitável. Não só regimes socialistas, como o da Argélia, mas também o da Síria e o do Iraque, caíram na esfera de influência de Moscou.
Anos de governos que não conseguiram estabelecer condições de crescimento estável deixaram as populações à margem tanto das oportunidades de melhoria de vida quanto de participação política.
Foi nas camadas menos privilegiadas e menos organizadas da população que o islamismo –relegado a segundo plano pelos governos ocidentalizantes de direita ou de esquerda– conseguiu recobrar uma característica que lhe é essencial: a relevância política.
Foi no Irã, no entanto, –em condições diferentes– que o islamismo chegou de fato ao poder.
O xá Reza Pahlevi era líder de um dos governos mais ocidentalizantes do Oriente Médio. Longe da influência do nacionalismo árabe –os iranianos não são árabes– Pahlevi tinha interesse em se aproximar dos EUA e de Israel.
No final de 78, motivadas por dificuldades econômicas do país, manifestações de oposição começaram a tomar corpo.
Em janeiro de 79 Pahlevi deixa o país. Liderados pelo aiátola Khomeini, opositor do xá e exilado desde 64, os muçulmanos xiitas –majoritários no país– decretaram a República Islâmica do Irã.
Um líder espiritual, inicialmente Khomeini, nomeado pelo clero xiita era o chefe máximo.
Foi eleito o presidente Bani-Sadr e um governo provisório liderado pela oposição moderada.
A dissenção entre os modernistas do governo provisório e os seguidores de Khomeini se acirrou com a primeira ação terrorista do Estado iraniano.
Em novembro de 79, estudantes invadem a Embaixada dos EUA e fazem reféns. A exigência é de que os EUA extraditem o xá Reza Pahlevi para ser julgado no Irã.
A crise derrubou, em 80, o governo provisório. Em 81, depois de choques nas ruas entre apoiadores de Sadr e Khomeini, o presidente caiu e fugiu para França.
A partir daí, o poder do clero xiita se firmou definitivamente. A linha básica da política externa foi a demonização do Ocidente e da laicização do mundo islâmico.
O terrorismo islâmico passou a ser patrocinado no Oriente Médio, principalmente no Líbano e entre palestinos. O Hizbollah e Jihad, se formaram durante a guerra civil no Líbano (1975-90). O Hamas quase suplantou a liderança de Iasser Arafat nos territórios ocupados.

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