São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994 |
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Governo investiga conexão árabe no Brasil
JOSIAS DE SOUZA
A PF (Polícia Federal) despachou para a região de fronteira, no sul do país, cerca de dez agentes. Eles recebem apoio das brigadas militares locais. As operações concentram-se nas cidades de Uruguaiana (RS) e Foz do Iguaçu (PR), onde há uma grande comunidade árabe. A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República também enviou de Curitiba (PR) agentes para a fronteira. Não se detectou, até o momento, qualquer indício que leve à conclusão de que os atos terroristas praticados na Argentina tenham sido planejados a partir do Brasil, como chegou a suspeitar o governo argentino. Infiltrados na comunidade árabe, os agentes da PF não descobriram nada além de pequenos comerciantes, alguns deles fixados há duas décadas no Brasil. Desde 1992, quando houve uma explosão na Embaixada de Israel na capital argentina, os arquivos da PF guardam documento elaborado pela Interpol (polícia internacional), alertando para mudança de eixo do terrorismo internacional. O documento alertava para o risco de os principais grupos terroristas do mundo expandirem o seu raio de atuação, deixando de agir apenas na Europa. Apontava-se a possibilidade de pipocarem atentados também nos Estados Unidos e em países da América Latina. Foram mencionados três possíveis alvos: Paraguai, Chile e Argentina. O Brasil está sendo municiado com informações do Mossad, a polícia secreta israelense. Brasília é abastecida também com dados fornecidos pelos países vizinhos. A polícia argentina disse ter encontrado, por exemplo, material impresso do grupo Hizbollah, o "Partido de Deus", integrado por xiitas libaneses, apoiados pelo Irã. A descoberta foi feita em março passado, na cidade argentina de Posadas. O Hizbollah é o principal suspeito pela explosão do prédio onde funcionava, em Buenos Aires, a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina). Em outra operação, desta vez em conjunto com a polícia paraguaia, os agentes argentinos localizaram na cidade de Encarnacion, no Paraguai, nova quantidade de impressos, cerca de 50 armas e explosivo plástico. O governo brasileiro sustenta que não há indícios da presença ou mesmo da passagem de terroristas pelo território brasileiro. Veladamente, autoridades argentinas acusam o Brasil de ser negligente no controle da entrada e saída de estrangeiros e pouco cooperativo nas investigações. Nos próximos dias, a Polícia Federal deve baixar portaria que torna mais rígida a fiscalização nos aeroportos. Os agentes de fronteira receberam, de resto, orientação para analisar com maior rigor a documentação de brasileiros e estrangeiros. A maior preocupação são os passaportes falsos. Horas depois da explosão da Associação Mutual Israelita, um iraquiano com visto brasileiro no passaporte foi preso pela polícia argentina em Paso de Los Libres, na fronteira com o Brasil. Acionado, o governo brasileiro notou o quanto é falho o controle oficial sobre a imigração. Adnan Mohamen Yossif estava em situação completamente irregular. Ele obteve visto de turista na embaixada brasileira em Trípoli. O problema é que o visto, válido por apenas 30 dias, foi concedido em agosto de 90. Yossif vivia clandestinamente em Uruguaiana havia quatro anos. Sua participação no atentado não foi comprovada. A PF tenta, no momento, atualizar os seus arquivos. Há em Brasília cerca de 30 comunidades árabes catalogadas. Descobriu-se, porém, não há referência ao grupo Hizbollah, sobre o qual pairam no momento as maiores suspeitas. Colaborou GILBERTO DIMENSTEIN, diretor da Sucursal de Brasília Texto Anterior: Reino Unido tem 1 milhão Próximo Texto: EUA temem onda de terror com avanço da paz no Oriente Médio Índice |
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