São Paulo, domingo, 31 de julho de 1994
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EUA temem onda de terror com avanço da paz no Oriente Médio

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Departamento de Estado norte-americano teme que uma nova onda de terrorismo tome conta do cenário internacional e dos Estados Unidos como represália ao avanço da paz no Oriente Médio.
Os EUA defendem uma ação "extensa e defintiva" para isolar países que fomentam os atentados.
Todas as agências de segurança e polícias norte-americanas reforçaram desde quarta-feira passada a segurança em locais próximos a representações diplomáticas e civis judaicas. A vigilância em estradas e aeroportos também aumentou.
Os EUA acreditam que grupos terroristas reajam com mais atentados ao encaminhamento da paz entre árabes e judeus e recriem uma situação parecida com a de 1987 e 1988, quando foram registrados números recordes de atentados em todo o mundo.
O secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, defendeu na semana passada uma ação "decisiva" para acabar com a nova onda de terrorismo, que voltou à cena no ano passado.
Em 1993, ocorreram 427 atentados terroristas em todo o mundo, 63 a mais que em 1992.
Boa parte dos ataques, segundo relatório da Coordenação Contraterrorismo do Departamento de Estado, aconteceu em resposta ao processo de paz no Oriente Médio.
O órgão acredita que as atenções antiterrorismo devem concentrar-se agora principalmente sobre o Irã, Síria e Iraque, que não concordam totalmente ou em parte com a política dos EUA de estimulo à paz no Oriente Médio.
Nos atentados do ano passado (138 a bomba), 109 pessoas morreram e 1.393 ficaram feridas, sem contar seis mortos e 1.002 feridos em uma ação de muçulmanos que explodiram uma bomba no World Trade Center, em Manhattan, em fevereiro.
O recorde histórico de atentados ocorreu em 1987, quando foram registrados 672 ataques (442 a bomba) que mataram 623 pessoas e deixaram outras 2.200 feridas.
Os números incluem diversos tipos de atentados realizados por vários terroristas em todo o mundo, como o grupo separatista basco ETA –que explodiu uma bomba no centro de Madri anteontem, matando três pessoas– e o IRA –que feriu 29 pessoas em um atentado no mesmo dia em Newry, na Irlanda do Norte.
O secretário Warren Cristopher culpou abertamente na semana passada o governo do Irã e o grupo terrorista pró-iraniano Hizbollah por ações terroristas.
Cristopher criticou também a Alemanha e a Rússia por manterem relações comerciais e financeiras com o Irã.
No caso da Rússia, cerca de um quarto das vendas de armas do país, que incluem submarinos e aviões bombardeiros, estariam sendo dirigidas ao Irã.
O Departamento de Estado considera o grupo pró-Irã Hizbollah responsável por três atentados recentes: contra o centro comunitário judaico em Buenos Aires, que matou 96 pessoas, e por duas explosões em Londres, uma delas próxima à Embaixada de Israel, que deixaram pelo menos 19 feridos na semana passada.
Um quarto atentado recente, uma bomba que derrubou um avião no Panamá, matando 21 pessoas (12 delas judeus), também estaria relacionado à mesma onda de terrorismo.
A assinatura, em Washington na segunda-feira passada, do acordo de paz e cooperação econômica entre Israel e Jordânia seria a "justificativa" para os atentados.
O "estado de vigilância" nos EUA contra o terrorismo deve permanecer por tempo indeterminado, segundo informações do Departamento de Estado.
Historicamente, o número de atentados no país é baixo (o maior foi contra o World Trade Center) mas a quantidade de cidadãos americanos vítimas de ataques em todo o mundo representou mais de 30% do total nos últimos três anos.

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