São Paulo, segunda-feira, 1 de agosto de 1994
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Ciência ineficiente

Encerrada há pouco mais de uma semana, a 46ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) continua estimulando um debate já há muito necessário acerca dos rumos da ciência no país. O caderno Mais! publicado ontem, por exemplo, traz um importante estudo que coloca em evidência a baixa produtividade do setor de pesquisa das universidades brasileiras, corroborando críticas feitas por cientistas –e a impressão generalizada– de que os gastos com ciência no país são feitos de forma altamente ineficiente.
O estudo do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da USP revela que 47% dos cerca de 42 mil professores contratados como pesquisadores acadêmicos no Brasil não publicaram nenhum trabalho nos últimos três anos. É um número gritante, mesmo quando se consideram as dificuldades na avaliação de produtividade de pesquisas acadêmicas. Ninguém ignora, afinal a importância crucial que a publicação de trabalhos tem no meio científico.
É animador notar que dentro da comunidade já se admite que são necessárias mudanças de fundo para colocar a pesquisa na trilha certa, como o fim da estabilidade dos pesquisadores, adoção de métodos rigorosos de avaliação e mais critério na escolha dos projetos.
De fato, por mais que seja verdade que o Brasil investe menos em pesquisa acadêmica do que países desenvolvidos, e sem dúvida menos do que seria desejável, parece também inegável que investe pior.
Assim, a prioridade de todo o setor sem dúvida deveria ser a de provar que gasta bem os recursos já existentes, garantindo a máxima eficiência na sua aplicação. Não passa, de resto, do mesmo desafio que todo o restante do país vem enfrentando nos últimos anos, desafio imposto por uma nova realidade da qual mesmo os mais reclusos acadêmicos não podem mais se furtar.

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