São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Pressões ameaçam o sucesso do plano

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um mês de nova moeda, o Plano Real funciona bastante bem, mas permanecem no ar todas as ameaças que existiam em 1º de julho. E que podem resumidas num ponto: as pressões para aumento do gasto do governo. São nove as ameaças econômicas ao plano:
Salário do funcionalismo - É o maior problema. O ministro da Administração, Romildo Canhim, e os ministros militares pleiteam reajustes salariais que podem elevar o gasto com a folha em R$ 2,5 bilhões neste ano.
O assunto está na mão do presidente Itamar. O adiamento até aqui é ponto a favor de Ricupero.
Ufir - Faz a indexação ou correção monetária dos impostos a serem recebidos pelo governo federal. O ministro Ricupero manteve a Ufir, mas congelada. No último dia 20, foi descongelada e passou a ser corrigida mensalmente.
Salva a receita, mas é um tiro na credibilidade política do plano. Significa o retorno da indexação.
Gasto público - Tirante os Ministérios da Fazenda e do Planejamento, os demais fazem pressão para aumento de gastos. O próprio presidente Itamar quer gastar R$ 600 milhões para iniciar o megaprojeto de transposição das águas do rio São Francisco.
Governadores - Também fazem pressão para gastar. Os governadores estão aproveitando o descongelamento da Ufir para reindexar e aumentar seus impostos acima da inflação. Prefeitos também estão nessa.
Bancos estaduais - Já se sabe que há pelo menos três em dificuldades. Com o fim dos ganhos inflacionários, enfrentam problemas para rolar seus compromissos.
O Banco Central informa que vai exigir ajustes desses bancos e que os governos estaduais paguem as suas dívidas com os bancos que são proprietários. Se isso não acontecer, o BC estará diante da alternativa de ou deixar os bancos estaduais quebrarem ou dar dinheiro a eles. Esta saída é inflacionária e atinge a credibilidade do plano.
Estatais - As estatais resistem a fazer ajustes de estabilização. Em vez de cortar gastos e ganhar produtividade, fazem pressão por aumento de tarifas.
Itamar - Persiste no ar o temor de que o presidente tome decisões abruptas que batam de frente contra a lógica do plano.
Dissídios - Duas categorias vinculadas à CUT, petroleiros e bancários, têm data-base em setembro. Seus pedidos de reajuste salarial vão muito além do que o plano tolera. Se ganharem na Justiça do Trabalho, isso desataria uma reindexação salarial generalizada e liquidaria o plano.
Serviços em geral - Não há possibilidade de o governo controlar preços de serviços, tais como os de barbeiros, médicos, mecânicos, dentistas, encanadores etc.
Esses profissionais aproveitam os momentos de queda súbita da inflação para aumentar o preço. Acredita-se que em agosto o preço de serviços pressione a inflação.

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