São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Agora é tarde

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso era ontem um homem arrependido. Se pudesse, teria posto no lugar de Guilherme Palmeira um político do próprio PSDB, compondo uma chapa "puro sangue".
Mas, atado ao PFL por um casamento de conveniência, terá de conformar-se com a companhia de outro pefelista. Desde cedo, tentavam fazê-lo engolir Marco Maciel, a quem não suporta.
Quando decidiu tornar-se presidenciável, Fernando Henrique era o que os políticos costumam chamar de "candidato pesado". Tinha boa biografia, mas poucos votos.
Nas pesquisas, cambaleava entre 16% e 19%. Levava um baile de Lula, que chegou a ultrapassar os 40%.
Por isso optou por unir-se ao PFL. O partido tem má reputação, mas era tido como uma máquina de votos, especialmente no Nordeste.
Pergunte-se agora aos principais auxiliares de campanha de Fernando Henrique o que acham da aliança com o PFL. Todos dirão, numa unanimidade espantosa: foi um erro.
Se soubesse que o Plano Real teria tão boa aceitação, em tão curto espaço de tempo, Fernando Henrique teria feito outro jogo.
No início da campanha, chegou a pensar em dar de ombros para o PFL. Argumentava-se à sua volta que, sem alternativas, os pefelistas se aliariam à sua campanha por inércia, sem que para isso fosse necessário entregar a vaga de vice.
Mas o candidato acabou sucumbindo ao medo de transformar-se num faquir eleitoral, unindo-se ao que imaginava ser um baú de votos.
Ao trafegar por cenários dominados pelo parceiro de ocasião, Fernando Henrique viveu experiências novas. Aprendeu, por exemplo, a comer buchada de bode.
O PFL também ensinou-o a equilibrar-se no lombo de um jegue. Mostrou-lhe como cruzar uma multidão sobre o cangote de um mulato. Mas ainda não lhe deu o essencial: votos.
Os votos que permitiram a Fernando Henrique encostar em Lula vieram do Plano Real. Ninguém, nem mesmo no PFL, contesta essa evidência.
Em diálogos reservados, aliás, Antônio Carlos Magalhães interpreta com uma dose de humor a nova situação do candidato.
"Há um mês, se Fernando Henrique saísse com a gravata torta, as pessoas diriam que não sabia se vestir", comenta ACM. "Hoje, se sair de cuecas, dirão que está lançando moda".

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