São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Supereleição de 50 teve ameaça de golpe

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

As eleições de 1950 tiveram em comum com as de 1994 o fato de que foram gerais, ou quase: escolheu-se de presidente a deputado estadual no mesmo dia 3 de outubro da votação deste ano. E terminam aí as coincidências. 1950 teve pressão militar e conspiração golpista civil. Os três maiores partidos tentaram costurar acordos para uma candidatura única à Presidência. Não havia cédula única, nem horário eleitoral.
Getúlio Vargas (PTB), o vencedor, o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) e Cristiano Machado (PSD) eram os três principais candidatos. O Partido Comunista, que teve 10% nas presidenciais de 1945, estava proibido de funcionar. Fez campanha pelo voto em branco, mas os militantes e simpatizantes apoiaram Vargas.
O presidente e marechal Eurico Dutra queria que os partidos que o apoiavam (PSD-UDN, 228 dos 276 deputados federais) se unissem para derrotar uma possível candidatura Vargas. Oposições regionais minaram a aliança.
Em fevereiro de 1949, Vargas anunciara a Samuel Wainer, repórter de "O Jornal", de Assis Chateaubriand, que voltaria "não como líder político, mas como líder de massas", mas negaceou sua candidatura até meados de 1950. Vargas havia sido deposto em 1945.
Em junho, o jornalista Carlos Lacerda, udenista, escreveu em seu jornal, "Tribuna da Imprensa": "O sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar". A UDN procurou impedir a posse de Vargas, argumentando que ele não obtivera a maioria absoluta (teve 48%, contra 29% de Gomes e 21% de Machado). Com alguma pressão militar por Vargas, o TSE o proclamou vencedor em janeiro de 1951.
Um mês depois da ameaça de Lacerda, antes de iniciar a campanha, Vargas havia feito à Folha (na época Folha da Noite) a famosa profecia sobre o fim do seu governo (ele se suicidaria em 1954). "Tenho plena certeza de que serei eleito, mas sei também que, pela segunda vez, não chegarei ao fim do meu governo... Se não me matarem, até que ponto meus nervos poderão aguentar? Uma coisa lhes digo: não poderei tolerar humilhações", declarou.
Vargas saiu candidato e começou a campanha em agosto. Visitou 54 cidades nos 20 Estados e o Distrito Federal (na época, o Rio). Tinha o apoio de Ademar de Barros (PSP), governador de São Paulo, que esperava retribuição do favor nas eleições de 1955. Ademar também tirou de seu partido o nome de vice de Vargas, Café Filho, também candidato a deputado federal pelo Rio Grande do Norte (era permitido). Ex-opositor da ditadura Vargas, o vice causou constrangimento no início da campanha: "O ex-ditador tem receio de que eu tenha mais votos como vice do que ele para presidente".
O brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), o segundo colocado, era católico fervoroso e tinha apoio da imprensa. Derrotado na eleição presidencial de 1945, tinha fama de "inimigo dos marmiteiros". Um dos slogans populares de sua campanha era "vote no brigadeiro, que é bonito e é solteiro".
Cristiano Machado (PSD) ficou na história por causa do termo "cristianização". Sua candidatura foi abandonada por membros do seu partido em vários Estados, Minas principalmente. Os votos foram para Vargas.
Vargas não obteve maioria na Câmara. O PSD ficou com 112 deputados, a UDN com 81 e o PTB com 51 entre os 276 eleitos.
A coluna ERA UMA VEZ é publicada às quartas-feiras.

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