São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Pelo rádio, candidatos se afogam em promessas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O horário eleitoral gratuito começou ontem nas rádios com uma cascata de promessas genéricas que seus autores jamais terão condições de cumprir.
Um candidato petebista, Gil Nobre, prometeu ensino superior gratuito para os funcionários públicos.
Uma peemedebista, Helena Watanabe, disse ser possível "conquistar o padrão de vida a que temos direito".
Reinaldo de Barros Junior, também do PMDB, prometeu "casa própria para todos, da população mais carente à classe média".
Alguns dos candidatos, ao escaparem da retórica das promessas, caíram na armadilha das generalidades, com um eloquente vazio de informações.
"Nosso trabalho tem que continuar. Vamos às ruas em defesa de nossas propostas", disse o entusiasmado locutor do PL.
"Temos o compromisso de tornar o Brasil um país onde todos tenham condições de viver bem", repicava o locutor do PPS.
"Dignidade sempre", afirmou um candidato do PSDB.
É como se estivessem supostamente em jogo a defesa da indignidade, da piora de vida ou da possibilidade de alguém sair às ruas para atacar suas próprias idéias.
"Desta vez, valorize seu voto: vote em quem trabalha", exorta um concorrente do PFL, como se, das outras vezes, o eleitor votasse propositalmente em ociosos.
Todos são covardes e mentirosos? É o que insinua o PDT, ao definir Francisco Rossi como "um político que tem a coragem de dizer a verdade".
São meros exemplos.
Os radialistas evocam de forma explicita seus empregos para firmarem, na política, uma imagem conquistada na mídia.
Um deles ficou com um nome bem comprido. "Eu sou Dácio Arruda, da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão". É do PMDB.
Outro, do PFL, compôs uma musiquinha com uma aliteração de mau gosto. Trata-se de Afanazio Jazadji. "Afanazio deputado, 25, pum-pum-pum" (maneira de dizer 25.111, seu número do candidato).
Até o feminismo foi reativado. No PT, uma candidata chamada Amélia se definiu como "mulher de verdade, mas não submissa".
O PC do B anuncia angelicalmente a razão de sua campanha: "Todas as terças, quintas e sábados estaremos aqui, denunciando as maracutais das elites".
A mesma palavra, maracutaia, aparece na propaganda do PSTU, ex-Convergência Socialista, ao se referir ao processo de privatização da Embraer.
O mesmo partido pesa nas cores e escorrega para o campo das inverdades, ao dizer que aquela estatal, no passado, chegou a fornecer 40% das pequenas aeronaves civis dos Estados Unidos.

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