São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Estado ou departamento de pessoal

CLÓVIS ROSSI

FLORIANÓPOLIS – Vilson Kleinubing (PFL), que deixou o governo de Santa Catarina para disputar o Senado, solta um dado assustador: em apenas 18 anos mais, todo o funcionalismo público do Estado estará aposentado (ou, ao menos, em condições de se aposentar).
Ou seja, dentro de um espaço de tempo relativamente reduzido, o Tesouro catarinense arcará com uma folha de pagamento duas vezes maior do que a atual, sem que haja a menor perspectiva de que a receita cresça simetricamente.
Que ninguém pense que se trata de um problema atípico no Brasil. Ao contrário: Santa Catarina até que tem uma situação menos complicada do ponto de vista da saúde financeira do Estado. Por isso, é razoável supor que, nas demais 26 unidades federativas, o quadro seja ainda mais assustador.
Mesmo em uma situação menos desconfortável do que a média dos Estados brasileiros, Santa Catarina acaba ficando com minguados recursos para investir. Kleinubing calcula que arrecadou em seus três anos de gestão o equivalente a US$ 3,7 bilhões. Depois de pagar o funcionalismo e o custeio (os gastos de operação da máquina pública), o que sobrou para investir foi cerca de 10% desse total.
Esses números são de um Estado mais homogêneo socialmente do que a esmagadora maioria dos demais e tão diversificado na sua economia que consegue sentir menos dramaticamente os efeitos das sucessivas crises.
Agora, pense-se no Brasil e nos seus futuros presidente e governadores. Se há tão pouco dinheiro disponível para investir, as suculentas promessas que recheiam os programas de governo e as promessas de palanque (inclusive os eletrônicos) tendem a ficar no papel. De novo.
Nesse ponto, não se trata de uma questão ideológica. Pode-se gostar do chamado "Estado mínimo", como adoram os neoliberais. Ou pode-se preferir o Estado intervencionista. Mas, para que um ou outro funcione, o primeiro passo é reformar o Estado de uma maneira ampla, geral e irrestrita. Se esse passo não for dado, o Estado não será nem mínimo nem forte. Será apenas um departamento de pessoal.

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