São Paulo, quarta-feira, 3 de agosto de 1994
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Real X dólar

A desvalorização do dólar, que desde a troca de moedas está valendo menos do que um real, reflete uma saudável opção pelos mecanismos de mercado na obtenção do equilíbrio externo.
Os longos anos com altíssima inflação levaram o país a um regime de câmbio administrado, no qual as autoridades monetárias fixavam periodicamente –e depois diariamente– o valor do dólar em relação à moeda nacional. Esse regime tinha como objetivo preservar a competitividade das exportações brasileiras, isolando o setor exportador dos efeitos da inflação.
Mas, se por um lado essa política ajudou o país a enfrentar as dificuldades do período de crise da dívida externa, por outro, ela retirou da economia um dos mecanismos de contenção da inflação.
Pois, do ponto de vista do comércio externo, quando o governo não interfere na taxa de câmbio, um aumento dos preços internos tende a diminuir as exportações –desaquecendo a economia– e a tornar relativamente mais baratos os produtos importados, pressionando para baixo os preços internos. E, do ponto de vista dos fluxos financeiros, a variação da taxa de câmbio coíbe a entrada excessiva de recursos quando as taxas de juros internas são superiores às do mercado internacional.
A política cambial adotada desde 1º de julho –que garante como limite a paridade do real ao dólar até o final do ano e vem permitindo que, abaixo desse limite, a da taxa de câmbio varie segundo a oferta e demanda de divisas– faz com que o setor externo volte a ser um fator de estabilidade monetária.
Hoje, a perda de 7% a 8% para os que desejarem vender dólares e aplicar em títulos brasileiros desestimula a entrada de divisas e, portanto, a expansão da base monetária. Ademais, o barateamento do dólar resulta em um menor custo dos produtos importados que, competindo em melhores condições, tendem a conter o preço de seus similares nacionais.
Mantida a atual política, os próprios mecanismos de mercado tendem a fazer com que a desvalorização do dólar frente ao real diminua à medida que caírem as ainda excepcionais taxas de juros praticadas no Brasil. A flutuação do câmbio permite, portanto, que o mercado se auto-regule. E sua manutenção só traz benefícios à estabilização.

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